sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

A contradição da linguagem - parte I

Como todo mundo na pequena Ijuí está cansado de saber, há duas formas socialmente aceitas de se tirar um esparadrapo de um machucado: a maneira feminina, que lembra a depilação com cera quente e que aposta na longa duração, diminuindo a intensidade da dor; e a maneira masculina, que segue o método de retirar adesivos, focando na baixa intensidade, apesar da alta duração da dor. Claro que essa divisão binária poderia ser dividida em mais umas dezenas de partes, mas isso não é aqui necessário. O fato de conter apenas duas partes não torna o fenômeno simplista, já que não há nada de errado com o número dois e, de fato, aqui o caso se divide em dois. Para uma realidade simples devemos utilizar uma linguagem igualmente simples. É claro que não é fácil -- se é que é possível -- usar esse tipo de informação para categorizar pessoas, como se quem optasse por uma maneira de retirar o esparadrapo fosse necessariamente, em todos os mundos possíveis, optar por essa maneira, e quem optasse pela outra, escolhesse sempre a outra. As próprias definições de masculino e de feminino - nas quais se apoiam as noções de depilar e de descolar - já não são tão fixas como já foram. 

No entanto, o detetive Paulo Rudi acreditava que sim, acreditava que podia determinar, apenas pela maneira que alguém tira um esparadrapo de um machucado, tipos de pessoas diferentes. Se no meio de uma investigação, ele visse um suspeito retirando um curativo ou um band-aid com todo o cuidado do mundo, aquele ato era visto como um reflexo da psicologia do suspeito e logo era interpretado como uma pista: o sujeito era frio, minucioso e suportava horas de interrogatório sem entregar nada. Não se tratava de uma pista quente, definitiva, mas era um detalhe que podia revelar o todo, um detalhe que se filtrado por uma mente aguda poderia ser muito útil. E o detetive Rudi se sentia muito esperto e especial com esses pequenos raciocínios. Era evidente que o verdadeiro trabalho investigativo, aquele que realmente soluciona casos, estava muito longe desses joguinhos mentais. Na verdade, as grandes evidências não precisam de nenhuma operação mental sofisticada, era só deitar o olhar, coisa que qualquer estudante de epistemologia social seria capaz de fazer. Mesmo assim, o que ocupava 90% do tempo do detetive eram esses experimentos mentais quase inúteis, que preenchiam quase que totalmente seu caderninho de informações. Não era isso que fazia Paulo Rudi ser um detive, mas era isso que o fazia sentir-se um detetive, e para ele era isso o que importava, tanto que usava uma capa bege, um óculos pendurado com fio no pescoço, um chapéu parecido com o do Chaves e fumava sempre um cachimbo, o que o fazia parecer uma criança brincando de detetive. 

Para não parecer um maluco, para fundamentar esses seus pequenos juízos o detetive Rudi criou várias teorias em sua cabeçona de moranga. Dessa forma, o que surgia como uma dedução ad hoc, se se mostrasse frequente e de alguma forma útil, entrava para um rol de traços psicológicos das pessoas em geral, que possibilitava a construção de arquétipos humanos a partir de características psíquicas básicas. A totalidade destes arquétipos Paulo Rudi chamava de Contradição da Linguagem. No caso do esparadrapo, Rudi jogava com duas tendências do pensamento humano frequentemente opostas: o ver fenomenológico continental e a racionalidade dedutiva analítica. Essa divisão entre Continental e Analítico pode até ser confusa. Rudi sabia disso. No entanto, o detetive conseguia inclusive unir os dois lados no fenômeno universal que é a monguice. 

O caso do esparadrapo não era o único, mas foi ele que fez Rudi ganhar fama e virar motivo de piada entre os colegas da Associação de Detetives do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, que passaram a se referir aos palpites meio malucos do detetive como "combos", numa alusão aos combos de lanches ruins que as senhorinhas vendiam pelas ruas de Ijuí e que a vida corrida de detetive obrigava todos a comerem: o sanduíche natural sempre acompanhava o suco de laranja, o dogão sempre vinha com aquela Coca quente. Mas para sermos justos aqui com os combos do detetive Rudi, temos que dizer que hoje em dia cada vez mais os hábitos e as preferências das pessoas estão se agrupando em blocos inseparáveis, como se estivessem coladas umas às outras, de tal forma que a partir de um único dos inúmeros itens componentes de um gosto pessoal é possível intuir quase todos os outros, como se fossem estrelas um pouco afastadas na pior constelação do universo. Vendo por esse lado, o detetive Rudi não era de todo ridículo. Provavelmente o detetive estava certo no espírito do seus combos, mas talvez errasse em sua aplicação em razão do seu critério interno de organização: a contradição da linguagem. 

De qualquer forma, Rudi estava agora diante do seu mais importante caso. Um caso que, se resolvido, acabaria com todas as chacotas feitas pelos colegas da Associação. Para começar a investigar tal caso, o detetive Paulo Rudi teve que lançar mão do seu mais impressionante disfarce: o de professor universitário de filosofia benjaminiano. 

CONTINUA...

terça-feira, 26 de novembro de 2013

A propósito da semana acadêmica

Escobar entrou no ônibus que vai da Ipiranga até a João Pessoa. Passou pela catraca com um movimento maquinal e respirou o ar quente do ônibus lotado. Na calçada, o vai-e-vem das pessoas, contornos indecisos que se transformavam a cada instante. Essa é a vida, todo o resto é mentira. Grandes mentiras da civilização ocidental, a falsa e sórdida civilização dos filósofos. Tão evidente a mentira que bastava, por um segundo, encher os pulmões e o cérebro com o ar de um ônibus lotado para perceber. É mentira Hegel e sua dialética do senhor e do escravo. É mentira Derrida e seus sonhos malucos de multiplicidade. É mentira Agamben e o estado de exceção. É mentira Honneth e o capitalismo tardio. É mentira a moral provisória em Descartes. É mentira a noção de sabedoria prática em Epicuro. É mentira a dicotomia entre fato e valor em Putnam. É mentira Gadamer e o círculo hermenêutico. É mentira Kant e sua dignidade humana.  É tudo mentira. É mentira o jogo estúpido das semanas acadêmicas. É mentira as publicações miseráveis nos periódicos científicos, como seus grosseiros títulos acadêmicos. É mentira a multiplicidade de problemas, de linhas de pesquisa, de teses e dissertações. É mentira os eventos acadêmicos organizados por estudantes de fala mansa e discursos da moda. Tudo uma grotesca mentira, habilmente dirigida. Professores, estudantes, bolsistas, orientadores, mestrandos, doutorandos, honestidade intelectual, homens e mulheres honestas... Escobar riu sem maldade nem ódio, enquanto olhava pela janela do T1 o céu luminoso. 

O vento entrava pela janela aberta a acariciava seus cabelos como uma mão carinhosa. Sim, meu amigo, na filosofia não se vive. Se produz artigos, se ganha bolsas de pesquisa, se compra, se vende, mas não se vive. A verdade estava ali, naquele ônibus lotado. Escobar queria ter forças para fugir daquela vida, romper com ela para sempre. Reintegrando-se ao ônibus lotado, ao dia quente, ao céu azul. Ir arrancando-se aos poucos, dia a dia, jogando fora as coisas que a filosofia havia plantado em sua alma. E assim acordar em uma certa manhã intacto, puro e forte. Poder ser ele novamente. Recordar o Escobar da infância, sem metafísicas, sem falsos conceitos bonitos, sem influência, sem bibliografia. Limpa a cabeça e feliz o coração. 

Isso era partir, ter a coragem de ir-se, romper com a vida estúpida e sem calor da acadêmia. As pessoas do ônibus, tão seguras, tão espontâneas, tão pessoas. E seus colegas apresentando trabalhos na PUC, aquelas gentes são animais melancólicos e covardes. Animais cansados e vencidos. Como cachorros castrados. E Escobar, que já começava a odiá-los, ria sem malícia. Por que não lhe ocorria mais do que palavras tristes para dizer o que queria?  Seguiu junto a janela, com os braços cruzados, junto ao corpo. Desceu logo em seguida. Seguiu olhando as pessoas na rua, caminhando entre as sombras da tarde que caia. E não ouvia mais as mentiras. Nada. Só a suavidade do silêncio. 

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

A angústia da influência

Deitado na cama, Escobar encarava um pedaço da parede branca. Aquela parede tão branca, tão fria e indiferente como um cadáver. Depois ele pensou na parede branca da biblioteca de seu orientador. Mais humana, menos parede. Com pinturas, fotografias e imagens. Na primeira vez que entrou ali, Escobar viu aquilo com um pouco de desgosto, mas logo foi se acostumando. Em pé, no quarto, Renata sem roupa se via no espelho. Pura e simples como um animal. "O que ela quer?" - chegou a se perguntar Escobar - "que bobagem, ela quer o que todos querem". 

Renata quer o que todos querem. Todos menos aquela parede branca, morta e impessoal. Renata olhava para si no espelho e suspirava balançando negativamente a cabeça. Escobar pensava em seu orientador. Aquele rosto velho que expressava sempre uma sensação de cansaço, mas ainda assim alegre. Uma alegria que não se alcança pela reflexão, que não se chega pelas conclusões do pensamento. É preciso atirar-se de cabeça na fé.  Aquele velho caminhava com passos lentos e cansados. Seu corpo expressava tanta entrega, tanto renunciamento, tanta vida que se perdeu. Seria aquele o seu futuro? É possível que ele se converta naquilo? Escobar sempre pensou que poderia modelar sua vida como bem quisesse. Mas e se ele estiver terrivelmente equivocado? Sendo razoável, essa é, sim, uma possibilidade. Agora mesmo, sem saber a razão, ele se encontrava cansado e abatido na cama. "Então é isso?".

Sim, é isso. Um professor dando lições de filosofia alemã, sabendo passagens de livros passo a passo, fingindo conformidade e satisfação. Escobar, dominado por um frio desespero, se viu tendo que pensar a sua vida nesse cenário, buscando, até com certa perversidade, a imagem que mais doía, a mais humilhante e ridícula no fantasma que é o homem em que ele se converteria. Lembrou dos anéis nos dedos, das pernas cruzadas, do relógio de ouro e do jeito de falar. Tudo isso teria ele? E também dos gestos repetitivos, quase mecânicos, da audácia nos olhos e, na boca, uma fala cheia de resignação. E esse era seu possível destino. Pensava na vida e não via mais do que fatalidade, como se seu cérebro tivesse apodrecido antes do corpo, como se uma força cega o obrigasse a continuar, a ler, a escrever, a envelhecer, a ir acumulando essas coisas, a sofrer, a gozar, a sentir tantas e tantas coisas distintas, algumas que nem o interessavam.

Se deteve um instante, fechando os olhos. Renata. Renata nua em pé em frente ao espelho, como se estivesse na coxia do teatro, enquanto ele na cama encarava a parede branca. Ele sabia que um dia iria enjoar-se dela. Mas ela era tão bonita, tão bonita. Sim, também era estúpida, um pouco vulgar, com uma maneira de se ver no espelho que dava nos nervos. Mas, no entanto, ainda assim, apesar de tudo, bonita. Sim, ele também sabia, estava sendo um idiota. Mas com ela, nada de dúvidas ou problemas filosóficos.

Levantou-se da cama e foi até a janela. O anoitecer escuro e frio. Sentiu a noite fresca e calma. E ouviu renata falar:

- Às vezes, durante a noite, eu me lembro de coisas de quando eu era menina.

Escobar estremeceu, pois sabia que qualquer coisa que ela dissesse não cairia bem em seu estado de ânimo.

- Não é nada demais. Só queria sentir aquilo de novo. O medo da noite e o mistério da noite. Isso a gente perde quando cresce. Hoje a noite não me dá mais medo. Mas quando anoitece e eu estou sozinha, me vem um desalento. Uma coisa que eu não sei o que é. É como se gelasse todo o meu sangue.

Escobar se deteve um instante na janela. "É como se gelasse o meu sangue". Idêntico desalento às vezes toma conta do seu corpo. Aos poucos, livre da influência das angústias de Renata, Escobar voltou a ver seu futuro como professor de filosofia, entrando em uma sala de aula cheio de livros embaixo dos braços. Renata estava ali, no quarto, com os olhos amáveis e a boca sorridente. Tentava sentir o parentesco humano que o unia aquela mulher e só sentia que eram pessoas distintas, sem mais em comum do que sentir o sangue gelar às vezes. Às vezes eles sentiam coisas parecidas, mas ela nunca seria capaz de entender nada de seus medos, de seus sonhos, de seus ódios, de sua vontade brutal de ser ele mesmo e não uma cópia de seu orientador, de sua busca apaixonada por um espaço no qual ele poderia se expressar completamente. Pensou em como seria fácil estrangular ela ali mesmo, ou lhe dar uma bofetada, mas sentiu nojo de si mesmo por considerar machucar aquele rosto tão bonito.

Depois voltou para a cama. Renata. Será que ele suportaria duas semanas sem vê-la? Escobar voltou a encarar o pedaço da parede branca. 

terça-feira, 5 de novembro de 2013

CHAT FILOSOFIA - SALA: FILOSOFIA BRASILEIRA

SALA: FILOSOFIA BRASILEIRA (1)

Luiz Felipe Pondé entra na sala.

Márcia Tiburi entra na sala.

Paulo Ghiraldelli Jr entra na sala. 

Olavo de Carvalho entra sala. 

Ernildo Stein entra na sala. 

Ernildo Stein fala com todos : Olá pessoal alguém quer conversar sobre a possibilidade de se traduzir o on aristotélico por ser ao invés de ente?

Luiz Felipe Pondé fala Ernildo Stein: Esse tema é muito chato. Não rende muito. 

Márcia Tiburi fala com todos: Concordo. Vamos falar sobre o aborto. O aborto é um dos temas mais populares na nossa sociedade patriarcal e no entanto a filosofia muito pouco fala sobre ele. 

Ernildo Stein sai da sala. 

Marilena Chauí entra na sala.

Luiz Felipe Pondé fala com todos: Sou contra o aborto. Na dúvida de saber quando se começa a vida, prefiro não correr o risco de matar ninguém. 

Márcia Tiburi fala irritada com Luiz Felipe Podé: Se o homem ficasse grávido, o aborto não seria ilegal!!!!

Marilena Chauí grita para todos: Sem útero, sem opinião!!!!

Luiz Felipe Pondé fala com Marilena Chauí: Vale lembrar que a mulher não faz o filho sozinha, então não vejo razão para o homem não poder participar do debate.

Márcia Tiburi: fala com Luiz Felipe Pondé: Porque o corpo não é dele, porque ele não tem cólica menstrual, porque ele não carrega a criança noves meses na barriga. São bons motivos para você, querido?

Olavo de Carvalho fala para todos: Quer dizer que só porque eu tenho um cacete e não uma buceta não posso opinar, ora porra????

Olavete entra na sala.

Paulo Ghiraldelli Jr fala para todos: Pelo jeito não é preciso diploma pra logar nesse chat kkkkkkkkkkkk

Olavete fala para Paulo Ghiraldelli Jr: Ainda bem que não precisa, pois se precisasse coitados de Sócrates, Platão, Aristóteles...

Vladimir Saflate entra na sala.

Vladimir Saflate fala para todos: Oiiiiiiiii algm qr tc????

Márcia Tiburi fala para Vladimir Saflate: O tema é o aborto na sociedade falocêntrica. 

Vladimir Saflate fala para todos: E quem se diz contra o aborto e defende a pena de morte???? rsrsrsrsrssrs

Olavete fala para Vladimir Saflate: Essa indireta foi pra mim???

Vladimir Saflate fala para Olavete: Se a carapuça serviu...

Mario Sérgio Cortella entra na sala. 

Paulo Ghiraldelli Jr fala para todos: Pessoal, eu não sou a favor do aborto. Ninguém é a favor do aborto. A questão não é essa. A questão é a descriminalização do aborto. 

Mario Sérgio Cortella fala para todos: Eu penso que a mãe tem um vínculo afetivo com o filho desde a concepção. Então interromper a gravidez (e aqui podemos pensar em Sócrates que se dizia um parteiro de ideias) deixa um trauma que mãe terá que carregar para sempre. 

Márcia Tiburi fala para todos: Fica difícil discutir com quem tenta impor seus dogmas aos outrxs

Leandro Konder entra na sala.

Leandro Konder fala para todos: Galera, passei aqui apenas para falar a real. Aborto é uma questão de saúde pública. #Fuuuuuuuui

Leandro Konder sai da sala. 

Olavo de Carvalho fala para todos: É fácil ser contra o aborto quando não serão vocês que serão abortados, ora porra. 

Paulo Ghiraldelli Jr fala para todos: kkkkkkkkkkkk o cara quer que a gente debata com um feto. Depois não sabe por que não passou no vestibular da USP

Olavete fala para Paulo Ghiraldelli Jr: Vai tomar no cu, otário!!!

Olavete foi banido pelo moderador. 

fEtO entra sala.

Vladimir Saflate fala para todos: ???????????????

Márcia Tiburi fala para todos: ?????????????

fEtO fala para todos: Algma gata afim d tc no reservado com cam com um novinho?????

Olavo de Carvalho fala reservadamente para fEtO : Mais tarde, como combinamos. 

fEtO fala reservadamente para Olavo de Carvalho: AFFFFFFFFF primeiro tc com as minas e depois debate com os abortistas #xatiado

Olavo de Carvalho fala reservadamente para fEtO : As minas estão em outra sala. Depois eu vou para lá também. Agora vamos debater com os abortistas. 

 fEtO fala para todos: algm qr tc comigo sobre aborto?????

Marilena Chauí  fala para fEtO  : Eu 

Vladimir Saflate fala para fEtO: Eu 

 Paulo Ghiraldelli Jr fala para fEtO: Eu 

fEtO fala para Marilena Chauí: primeiro vc gata. 

Marilena Chauí fala para fEtO: Qntos anos???

fEtO fala para Marilena Chauí: Seis meses gata.... e vc?

Márcia Tiburi fala para fEtO: E você se lembra alguma coisa de antes de ter dois meses. 

fEtO fala para Márcia Tiburi: Vixi, p falar a vdd naum lembro nada naum. 

Márcia Tiburi fala para todos: RÁÁÁ como eu desconfiava: até os dois meses ele era apenas um amontoado de células e, então, não se tratava de uma pessoa. 

fEtO fala para todos: :(

Luiz Felipe Pondé fala para todos: Bom, creio que isso coloca fim ao debate.

Marilena Chauí fala para todos: Isso é evidente. 

Paulo Ghiraldelli Jr fala para todos: Não restam dúvidas. 

Mario Sérgio Cortella fala para todos: Se é assim, boa noite para quem fica.

Amontoado de Células entra na sala.

Olavo de Carvalho fala para todos: PUTA QUE PARIU!!!!!!!














sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Cássia II

Eu sou o buraco na sua cabeça e sou a dor no seu pescoço. Eu sou o nó na sua garganta e sou o aperto no seu coração. Eu sou o arrepio na sua espinha e sou o cisco no seu olho. Eu estou no lamber de seus lábios e estou na ponta de sua língua. Eu sou o pesadelos de seus sonhos, sou aquela sensação de queda. Eu sou a doença e sou a agulha e seus remédios. Eu sou a bebida e sou sua ressaca pela manhã. Eu sou a sua sorte e sou o seu azar. Eu sou o seu amor e sou o seu ódio. Eu sou Cássia. 

Eu sou ao motivo de você faltar ao trabalho e passar a tarde num quarto sujo de motel com as paredes transpirando. Eu sou a pessoa com quem você rola na cama e que mata uma fome que parece ser de dias. Eu sou o cheiro que nessas horas vira o seu cheiro e eu sou o gesto que nessas horas vira o seu gesto. Tudo isso em meio a gritos, promessas e juras de amor enquanto suamos e transpiramos embaçando o vidro da janela. Eu sou a pessoa com quem você cai na cama, encharcado de suor. É por mim que você vai abandonar sua mulher e seus filhos. Eu sou Cássia.  

Eu sou a pessoa pra quem você vai buscar uma garrafinha de água depois. Eu sou a sede que vira a sua sede. Eu sou quem, na volta, você encontra na cama ofegante. Eu sou quem dá três ou quatro goles de água sem se preocupar se ela escorre ou não pela pele, se ela cai ou não nos lençóis ainda quentes. Eu sou com quem você vai recomeçar mesmo sem nunca ter chegado ao fim. Eu sou a boca que você ainda sente gelada da água no beijo. Eu sou quem vai evaporar até desaparecer com o vento gritando dentro da sua cabeça "para sempre". Eu sou quem você nunca vai ter para sempre. Eu sou livre. Eu sou assim: Cássia

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

O espetacular debate entre o filósofo Tim e uma pedra

O filósofo Tim está longe de ser um grande pensador. Na realidade, ele é um intelectual bastante medíocre e burocrático, só que o filósofo Tim foi abençoado com o dom de ser bem interpretado pelas pessoas. Por exemplo, numa de suas aulas, mês passado, um aluno esforçado apresentou um comovente trabalho sobre o conceito de hospitalidade em Derrida. O filósofo Tim chorou durante toda a apresentação. Muitas pessoas - incluindo o rapaz que apresentou o trabalho - acharam o filósofo Tim um cara muito legal e sensível, um pouco exagerado, mas ainda assim muito legal por se ter se deixado emocionar. Porém, o que realmente aconteceu foi que Tim estava achando tudo aquilo um saco e, quando pensou na sua produção intelectual dos últimos quinze anos, não aguentou e chorou. O filósofo Tim estava muito abalado principalmente depois que saiu a programação da semana acadêmica de sua universidade e ele se viu escalado para compor uma mesa de debates junto com uma pedra. 

Sim, uma pedra. Toda aquela preocupação com a alteridade e com a hospitalidade infinita, então por que não dialogar com uma pedra? - foi isso que os organizadores do evento argumentaram. Tim não sabia se era sério ou se estava sendo alvo de uma chacota de estudantes de pós-graduação. De qualquer forma - pensava o filósofo para se consolar - existem correntes de pensamentos místicas que dizem que as pedras sentem e pensam. Quem somos nós para limitar, não é mesmo? A alteridade deve ser aceita em toda a sua plenitude. Derrida mesmo disse que na aceitação da alteridade sempre há um pouco de loucura. Talvez muitas pedras sejam mais inteligentes que alguns seres humanos. Nós não vemos pedras matando, roubando, poluindo ou tentando impor sua fria lógica analítica - que na verdade imita o funcionamento do mercado liberal norte-americano - às outras formas de discursos. Não, nunca ninguém viu uma pedra fazendo isso. Isso explica por que as pedras nunca tiveram interesse em dialogar conosco. Em sua sabedoria superior, as pedras não entendem as nossas motivações mesquinhas e então preferem o silêncio. Ou talvez elas não conversem com a gente porque nunca leram Kant. Alguns sociólogos dizem que as pedras são tediosas e por isso não têm interesse de estudá-las. Mas, na realidade, esses sociólogos são apenas uns ressentidos. 

Tudo isso o filósofo Tim repetia para si mesmo para se convencer. Ele inclusive foi pesquisar sobre a vida e a história das pedras. Então ele se deparou com uma série de artigos publicados num grande livro chamado Fenomenologia das Pedras. Segundo alguns estudiosos que publicaram neste livro, as pedras são, sim, capazes de se mover, mas, no entanto, não o fazem. As pedras preferem ficar paradas porque não possuem nada de melhor para fazer em outro lugar e seria apenas um desperdício inútil de energia ficar indo de um canto para outro. Para o filósofo Tim isso pareceu fazer muito sentido. Ele até arriscou a hipótese de que esse modo de (não) mover das pedras é a chave para entender o seu pensamento tão superior ao nosso. 

Outra coisa interessante Tim encontrou em um livro de história que estava na estante de obrar raras da sua universidade. Lá ele leu que na Idade Média os boatos de que as pedras pensavam se espalhou fortemente e preocupou muito algumas pessoas religiosas muito importantes, inclusive o Papa. Isso nunca foi muito divulgado, mas, durante o período de caça às bruxas, houve uma atividade muito parecida de caça às pedras. Isso não durou muito porque os sacerdotes logo viram que perseguir pedras não era tão desafiador quanto perseguir bruxas, e jogá-las na fogueira também se mostrou muito decepcionante. 

De qualquer forma, era a tarefa de nosso querido filósofo debater com uma pedra na semana acadêmica. No dia do evento, uma pequena pedra, do tamanho da palma de uma mão, foi colocada sobre a mesa, em frente ao microfone. Tim sentou-se ao seu lado e começou com o debate: 

- A filosofia, em grande parte, sempre foi crítica da razão. Então eu proponho que comecemos por aqui. Tudo bem para você? 

- ...

- Bem, como dizem, quem cala consente hehe. Eu costumo colocar, quando se trata da ideia de razão, minha crítica ao que chamo de razão ardilosa. Minha crítica se dirige ao núcleo da ideia de razão, a partir da racionalidade calibrada pelo Outro da razão. Você está de acordo? 

- ...

- Seguindo. Trata-se do modelo de razão hegemônico na acadêmica, principalmente onde se tem maior influência do pensamento obtuso americano. Ela é surda ao grito silencioso do Outro e apenas re-projeta no mundo, só que de modo altamente formalizado, os pré-conceitos que dele recebe. Aqui eu toco no nervo da questão. O colega tem algo para contribuir? 

- ...

Nesse momento Tim afasta o microfone, se aproxima da pedra e cochicha para ela: 

- Olha, vai ser muito constrangedor se você não falar nada.

- ...

- Você não entende. Preciso de sua ajuda. Minha carreira acadêmica é uma piada. Escrevo sobre as mesmas coisas há 15 anos e até hoje não publiquei um livro relevante. Colabora aí, dona pedra.

- ...

- Tudo bem, eu até te entendo. Quem vai querer dialogar com um filósofo como eu? Sou um fracasso intelectual mesmo. 

- ...

- Curiosamente, você não é o primeiro corpo sem vida com o qual eu debato. Esses dias mesmo eu debati com o professor Agemir. 

- ... 

- Aposto que você está pensando que foi um debate muito interessante, mas não foi.  Hegelianos são um tipo estranho. Com muito tempo de sobra e nada para fazer. Tipo você. É um pouco triste, na verdade. 

- ...

- Nossa, eu estou passando muita vergonha aqui. Não sei por que concordei com isto. Onde já se viu, pedras pensarem? Por que eu me deixei levar por essa ideia? Todos do departamento vão rir de mim. Queria sumir, afundar na água igual uma pedra e desaparecer da vista de todos. 

- ...

- Falando nisso, por que vocês dão aqueles pulinhos quando são arremessadas na água? 

- Que pulinhos? Aquilo é física básica, seu imbecil. 

- Oi? 

-...

- Bem - voltando a falar no microfone - eu estava dizendo como o choque com a Alteridade deve nos levar à uma nova noção de razão, uma razão da ética...



domingo, 13 de outubro de 2013

Cássia I

Enquanto o Fantástico passa sem volume na televisão, Cássia busca no quarto um pouco de silêncio. Carros indo e vindo na rua e o tic tac enquanto ela digita qualquer coisa no skype para os meninos que batem punheta pensando nela. Raros momentos de tamanha tranquilidade. Ela gosta quando já é fim do dia e ela pode ficar só de blusa e calcinha, deitada na cama, não fazendo nada assim. Gosta de ver só a luz do abajur iluminando de forma delicada e sútil o quarto bagunçado. Gosta do toque do lençol nas suas pernas e do cheirinho bom do spray de casa cheirosa que ela joga no ar. E gosta dos meninos no skype dizendo que ela é gostosa. Nessas horas Cássia é quase feliz. 

Ela gostaria que seus pensamentos se aquietassem, para que ela realmente conseguisse descansar. Gostaria de ter um namorado, de levar uma vida certa e direita, ser mulher de um homem só, ser de família, como dizem. Gostaria que seu coração não ficasse acelerando e desacelerando trazendo essa pequena afobação gostosa cada vez que um desconhecido mostra pra ela seu pau duro na cam do skype. Que seu estômago não se revirasse de ansiedade cada vez que ele conhece um cara novo. Gostaria de não ficar imaginando como é na cama um colega ao qual acabou de ser apresentada. Gostaria que suas olheiras, resultado de noites seguidas sem dormir, não estivessem tão grandes num rosto tão branco e bonito.  Mas Cássia sabe que não pode mudar. Ela sabe que isso a mataria."Eu sou o que sou", ela diz pra si mesma. 

Ela gostaria que o sexo sem compromisso fosse capaz de curar essa qualquer coisa, esse incômodo ou sentimento amargo, essa coisa que não se sabe o nome ou a procedência, isso que desde que ela se viu moça quer sair mas não encontra a forma, isso que lhe tira a paz nos momentos de tranquilidade. Ela gostaria que saísse. Que saísse de algum jeito. Só que nunca saí. Deve estar perdido ou grudado em algum pedaço do seu corpo. Nos seus peitos ou nas pernas. Ou na suas células sanguíneas ou na sua respiração, ou no piscar dos olhos cansados. Ou no rímel melecado que sai com algodão junto com o removedor de maquiagem. Na pelinha do canto da unha do dedão arrancada ao dente. Mas continua lá. Nela. No corpo dela. No corpo que ela é. 

Enquanto o silêncio do quarto briga com a gritaria das ruas, Cássia sobrevive mais um dia. Enfrentando o que consegue e fugindo do que pode, encontrando no barulho do centro da cidade o silêncio inquieto que precisa para a sua quase sobrevivência. Somos todos Cássia.  
Fui fazer café (pensei em você), assim como quando abri o chuveiro à tarde (pensei em você) e quando estive caminhando ontem pelas ruas e vi os bares lotados (pensei em você). Eu prometi para mim mesmo não contribuir ainda mais para o acúmulo de lixo na internet com mais tristeza, mas você está na minha cabeça e não quer sair. De vez em quando as imagens mentais sobre você formam algumas palavras; nuvens de frases que vão se acumulando pelos cantos do apartamento sujo. Disso eu não consigo escapar. Eu queria nunca mais escrever. Não existe mais nada que deva ser dito por ninguém. Isso tá cada dia mais óbvio e isso eu vou repetir até me convencer. Só que não sei que destino dar às palavras mais simples, assim como não sei o que fazer com o café que esfria na mesa além de bebê-lo. No apartamento que eu moro não cabe mais nada, mas cabe minha cabeça teimosa. Cheia cheia cheia cheia de palavras. Abro um livro ou a geladeira ou um pacote de Cebolitos. Nada muda nada. Só a sujeira segue se acumulando pelos cantos do apartamento. Penso em você e você me vem à mente como um artigo que há semanas tento acabar e não consigo. Um artigo sobre o conceito de mundo em Heidegger. Sobre um mundo que é o seu e é o meu também. Não consigo acabar o artigo porque ele é ruim e ele é ruim porque é um artigo: porque diz alguma coisa que não precisa ser dito. Que diferença ele pode fazer? Prometo apenas escrever para contar piadas. Prometo ter equilíbrio mental suficiente para ser um idiota. Os grandes textos filosóficos do século XX falaram do fracasso da experiência humana. Os grandes textos filosóficos do século XXI falarão da aceitação desse fracasso. De minha parte, sei que não colocarei mais nada de ruim no mundo. Só vou escrever de coisa boa. Como quem fala por necessidade, como quem conversa com um cão. Não faz sentido defender, reclamar ou condenar. Seríamos mais coerentes se só usássemos a linguagem para falar de coisas sem importância. Nos casos em que queremos brigar, discutir, opinar, analisar a arquitetura das galáxias ou dissecar as estruturas do ser primordial ou criticar o complexo cenário político que inventamos para enfeitar a nossa cabeça - nestes casos deveríamos ter uma coisa em mente: ninguém realmente se importa. O que importa é ocasionalmente saciarmos nosso desejo, a fome, o frio, a tristeza. Se usarmos a linguagem pra isso, ela então faz sentido. No tempo que sobrar poderíamos dar um descanso para nosso logos. Sair tomar café, entrar num cinema e depois esperar na marquise de uma loja até que a chuva passe. Depois, em casa, bastaria ter calma com a noite. Sem se preocupar com o medo infantil que é ter medo da noite, sem se preocupar com tudo o que já foi dito sobre o medo da noite, sem se preocupar com o quanto já se falou sobre o medo da noite, sem se preocupar no quanto o medo da noite perdeu a graça depois que tudo sobre ele foi dito. Mas o medo da noite persiste tanto quanto a noite, tanto quanto as palavras sobre o medo da noite. Como se nada tivesse mudado desde o tempo em que o mundo era um lugar onde as coisas só dependiam do sol para serem vistas. E não das palavras. Então não há como nos livrarmos desse lixo. Quando toda essa bosta explodir -- a terra o céu o mar -- as palavras ficarão e irão ricochetear na atmosfera como raios ultravioleta. Não faz sentido nos preocuparmos nem mais nem mesmo. Vamos sentar na sombra, aproveitar enquanto ainda há brisa, adormecer em silêncio e gritemos em alto-falantes apenas quando for o caso de gritar.

domingo, 22 de setembro de 2013

Eu poderia escrever um post sobre Heidegger. Eu poderia explicar como Heidegger ao ligar a questão do ser com a compreensão que Dasein tem de si no mundo fez algo tão inovador na história do pensamento ocidental que é simplesmente impossível pensar as grandes questões metafísicas da mesma forma antes e depois de Ser e Tempo. Eu poderia fazer isto. E nem teria muitas dificuldades. Mas para isto teria que supor no leitor o mínimo de domínio do método fenomenológico. Então, melhor não.

Eu poderia escrever um post sobre a minha vida. Poderia escrever sobre meus planos e sobre tudo que faço para tornar minha vida melhor e mais agradável. Isto poderia servir de conselho para alguém. Ou para mim mesmo, que nunca faço o que me comprometo a fazer. É que eu ouço demais meus pensamentos, mas nunca consigo organizá-los. São como estrelas que brilham forte e que eu não consigo encaixar numa constelação. Seria um texto muito confuso. Melhor não. 

Já sei! Eu poderia escrever um post sobre o amor. Esse sentimento tão bonito que é o amor. Sempre rende bons textos, o amor. Só que todo mundo já escreve sobre o amor. Todo mundo repete frases sobre o amor. É um assunto tão batido, o amor. Melhor não. 

Eu poderia escrever um post sobre o último bom livro de filosofia que li. É um livro do Tugendhat, sobre autoconsciência e autodeterminação. É bom o livro. Ele quase chega lá. Quase chegar não é chegar. Melhor não. 

Eu poderia escrever um post sobre mim. Eu falo pouco de mim no meu próprio blog. Poderia falar sobre meu jeito, minhas manias e gostos. Poderia falar do que tenho medo, do que me deixa triste e do que me alegra. Poderia falar sobre a dor de cabeça terrível que tive hoje. Poderia. Poderia mesmo. Mas quem se interessaria? Talvez quem fabrique a Neosaldina. Eles deveriam até me patrocinar. Deveriam me dar uma caixa daquelas com vinte comprimidos por mês. É que minha dor de cabeça não passa só com uma. Todo duas juntas, ou até mais. Melhor não. 

Talvez se eu contasse uma história. Eu sou capaz de escrever uma história. Algo simples, dois ou três personagens no máximo. Algumas piadas internas e um final nonsense. Eu poderia escrever esse post. Pessoas inventadas num mundo inventado. O problema é que eu não consigo dar unidade às minhas histórias. Ficam acontecimentos soltos como em uma sopa de letrinhas. Como aquela sopa que Seu Osório faz questão de jogar no chão quando está muito fria e pastosa. Só gosta de sopa quentinha, o Seu Osório, e com legumes, que é pra dar sustância. Tá certo, como é esperto o Seu Osório. Eu o conheci numa visita que minha turma da escola fez ao asilo. Tudo era muito triste e feio. Ele me disse que morava no asilo há quase vinte anos. E não achava ruim. Até curtia ficar longe dos filhos e dos netos. Pessoas ruins, ele dizia. Os filhos o deixaram no asilo porque ele tinha ficado velho demais. Velho demais há quase vinte anos. É quase a minha idade. Se não morreu, ainda deve estar lá naquele asilo, jogando sua sopa fria fora, sozinho e velho demais, o Seu Osório. Melhor não. 

Eu poderia simplesmente escrever um post sobre a felicidade. Afinal, ser feliz é o que importa, né? Todo mundo é obrigado a ser feliz, mesmo que de mentirinha. Todo mundo tem que agradecer a sei lá quem todos os dias por ter uma casa, um carro, um namorado, família, gente que ama, trabalho, dinheiro, saúde e por não faltar nada. Reclamar? Não, nunca. Reclamar não. A vida é sempre boa, boa demais para ser verdade. Basta viver e ser feliz. Mas... Mas e se o sol tão lindo e tão brilhante que aparece pra vocês não aparecer pra mim? E se eu não quiser ser feliz? E se eu for triste? Qual é o problema de ser triste e ficar a vida toda debaixo das cobertas curtindo essa fossa? E se a felicidade, no final das contas, for algo tão escondido e tão mascarado, presente nas coisas mais pequenas e insignificantes, que no fim se tona praticamente inexistente? Melhor não.

Eu poderia escrever um post sobre Porto Alegre. Sobre como está frio e cinza. A aventura que é morar numa grande cidade. De como a vida de alguém que nasce e cresce no interior se vê de cabeça para baixo morando aqui. Poderia escrever sobre como a cidade nos engole como se fossemos um hambúrguer do Pampa Burguer. Poderia falar sobre como tento catar as migalhinhas de mim que sobram e de como me esforço para segurá-las firme nas mãos para que o vento ou os pombos não levem embora. Ninguém vê quando a gente fica sozinho em casa. O pior é quando bate a tristeza em horas erradas, como no ônibus lotado ou no meio de uma aula. Aí a gente tem que esconder a tristeza feito criança malcriada. Mas se alguém apertar o braço, a gente chora feito quando se aperta uma esponja encharcada. Mas essa coisa do menino confuso que se perde no fluxo de pessoas na cidade grande já tá manjada demais também. Eu escolhi morar aqui e foda-se: é problema meu. Melhor não escrever sobre isto. Melhor não. 

E se eu escrever um post político? Tá na moda. A política é sexy hoje em dia. A política é o chapéu da estação. Eu poderia esbravejar por linhas e linhas sobre um tema que eu conheço pouco e na verdade quase nada me interessa. O que me interessa que não prendem os condenados do Mensalão? Foda-se o Mensalão. Às vezes até me sinto um pouco culpado por não me interessar muito por esse tema. Dizem que a política interfere diretamente na vida de todo mundo. Até na minha? Que se dane. Melhor não. 

Eu poderia então escrever um post sobre a vontade de escrever, mesmo quando a inspiração não vem. Mesmo quando todos os temas do mundo parecem chatos e monótonos e mesmo assim você sente uma vontade tão grande de colocar algo pra fora, como se fosse vomitar pelas mãos. Mas o quê? O que é isso que quer sair? O que é isso que faz cosquinha na cabeça da gente? O que quer ser escrito? O que pede pra gente um nome? O que é isso que me faz digitar tão depressa enquanto que na TV um pastor exorciza uma mulher aos gritos?

Estou sem tema. Sobre o que é esse post? O que é que você gostaria de ter lido? O que é? 


quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Uma vez eu conheci um cara que só tinha um braço. Ele tinha nascido com os dois braços, mas tinha perdido um deles num acidente de carro ou algo assim. O problema, como esse cara me disse, é que, quando ele sonhava, no sonho ele tinha os dois braços. Então sempre que acordava era como se alguém estivesse contando pra ele pela primeira vez que ele tinha perdido um braço. Assim toda a manhã era como se ele descobrisse que faltava um braço no seu corpo, um braço que ele tinha acabado de perder, um braço que não voltaria mais. Toda a manhã, depois de acordar, ele se via sem um braço e sentia vontade de chorar. Toda manhã, depois de acordar, ele sentia raiva do mundo por ter lhe tirado um braço. Por alguns minutos, toda manhã, ele tinha de novo que lidar com a falta que um braço faria, tinha que pensar em como teria que seguir a vida sem ter um braço, antes de aceitar que não tem um braço, que as coisas são assim mesmo e que ele não pode fazer nada em relação a isto - para só então levantar da cama, vestir-se, tomar café e ir trabalhar. Isso todas as manhãs. Todos os dias. 

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Dois breves contos de terror do Chaleira: A menina fantasma do 303 e Socorro, minha irmã é uma vampira

Como vocês estão, queridos? Prontos para mais contos de terror do Chaleira de arrepiar os cabelos? Dessa vez eu vou contar como tive um contato sobrenatural com uma fantasminha pra lá de assustadora e como descobri que minha irmã adotiva na verdade era uma vampira muito da fuleira. Então tirem as crianças da sala e preparem-se:
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A MENINA FANTASMA DO 303

Já fazem seis meses que eu me mudei para um antigo prédio perto do centro da cidade. Meu apartamento fica no quarto andar do prédio, o último. Como o prédio é um pouco antigo, ele não possui elevador, o que me faz ter que sempre subir pelas escadas. O problema é que sempre que eu passava pelo terceiro andar, escutava um choro de criança vindo do apartamento 303. 

Um dia, preocupado, fui lá e bati na porta, no entanto ninguém apareceu para abrir. Como continuei ouvindo o choro de uma criança sempre que passava pelo terceiro andar, fui perguntar para a zeladora quem morava no 303. Foi então que fiquei muito assustado com sua resposta. Ela me disse: 

- Que estranho, você deve estar enganado, pois o apartamento 303 está fechado desde o começo do ano. 

- Mas, antes disso, quem morava lá? Pode ser que alguém ainda tenha a chave - insisti. 

- É uma história muito triste, não insista nisto, por favor. 

Visivelmente era algo sobre o qual a zeladora não queria falar. Tive que investigar por conta própria. Até que num jornal antigo encontrei uma reportagem que contava a história de uma mãe viciada em drogas que deixou sua filha, uma menininha de seis anos, trancada em casa para acompanhar a banda Molejo numa turnê de shows pelo Brasil. Ela era uma "grupie" - como dizem os jovens. O resultado foi que a pobre criança, que ficou mais de um mês trancada em casa sozinha, morreu de fome. A mãe foi presa e ainda hoje está na prisão. Seu apartamento era o 303 do meu prédio.

Depois que eu soube disse, não consegui mais dormir e passava todas as noites em claro chorando pensando na dor daquela pobre menininha morrendo de fome sozinha em casa. Até que numa noite de sexta-feira 13 véspera da Quarta-Feira de Cinzas de forte chuva não suportei mais a angústia e resolvi novamente bater no apartamento 303. Bati na porta.

TOC TOC

Ninguém atendeu. Bati novamente,

TOC TOC TOC

Ninguém respondeu de novo. 

Estava quase indo embora quando escutei uma voz baixinho e chorosa dizendo:

- Quem é? 

- Oi, meu nome é Chaleira e sou seu vizinho. Gostaria de saber se está tudo bem e se você gostaria de um pouco de comida. 

- É muita gentileza sua, mas está tudo bem aqui, obrigada. 

- Sério mesmo, não quer um pouquinho de arroz, feijão, um pedaço de bife e um ovo frito? 

- Não mesmo, moço, to de boa. 

-Eu posso trazer, moro logo no andar de cima. 

- Não, meu querido, eu to bem, não precisa de nada, não. 

E um xis do Cavanhas com fritas, que tal? Busco pra você.

- É muita gentileza mas vai ter que ficar pra próxima, amigão, hoje não vai rolar.

Não entendi muito bem o que aconteceu, mas voltei para casa e escalei o meu time para a próxima rodada do Hattrick. 

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SOCORRO, MINHA IRMÃ É UMA VAMPIRA

Bem, eu não sei se já contei isso para alguém, mas quando eu era apenas uma criança pequena eu tive a experiência mais inexplicável da minha vida - foi tão inexplicável que ninguém soube explicá-la na época. Tudo começou quando eu tinha nove ou dez anos e meus pais, que há anos tentavam ter um novo filho, resolveram adotar uma criança. Depois de fazer as provas necessárias, que incluía prova de língua estrangeira e avaliação do projeto, meus pais conseguiram adotar uma linda menininha de sete anos chamada Beatriz. Depois de fazer as vacinas necessárias, meus pais trouxeram a doce Beatriz para casa.  

No começo eu estava muito feliz, pois sempre quis ter uma irmãzinha para brincar, mas minha mana foi ficando cada vez mais estranha. Ela vivia sempre vestida de preto, só saia de casa a noite, só escutava The Cure e era fã de Crepúsculo. Em um chat na internet (rede mundial de computadores) me falaram que ela poderia ser uma vampira. Eu nunca acreditei em vampiros. Sempre achei que vampiro era uma invenção do capitalismo como Papai Noel, Jesus Cristo e o pós-estruturalismo. 

Até hoje eu tenho dificuldades em acreditar no que aconteceu, mas um certo dia de noite minha irmãzinha entrou na sala enquanto eu assistia a noite de eliminação na Fazenda e disse: 

- Mano, você acredita em vampiros? 

- Lógico que não, né, Bê...

- E se eu te falar que sou uma vampira?

- HA HA HA que imaginação você tem, mana. 

Foi então que ela abriu a boca e me mostrou aqueles dentões enormes e eu gelei de medo, fiquei branco dos pés até a cabeça, fiz xixi nas calças e sai correndo. Corri, corri, corri e depois corri mais um pouquinho. Quando cheguei na pracinha que tem perto da minha casa, parei para tomar folego, virei o rosto e minha irmã estava lá do meu lado. Juro, ela apareceu do nada. E ela me disse: 

- Calma, Chaleirinha, vamos conversar. 

Então ela colocou as mãos em mim e eu desmaiei. 

Quando acordei, dois dias depois, eu estava num orfanato e todos me diziam que fui parar lá porque meus pais haviam morrido, minha irmã havia sumido e eu havia sido encontrado desacordado no chão da praça dois dias antes. Aí eu levantei da cama apavorado e disse que quem tinha feito tudo aquilo era minha irmã Beatriz. Falei que ela era uma vampira e que voltaria para me pegar. E todos ficaram rindo de mim e alguém falou: 

- Ha ha ha tua irmã é uma vampira?

- Sim, eu juro!

- Então fala isso pra ela...

Então ela saiu detrás da cortina com aqueles dentões e toda coberta de sangue e eu desmaiei de novo e só acordei quinze anos depois já adulto e numa clínica para doentes mentais e me disseram que eu nunca tive irmã, que sou filho único e que matei meus pais quando era criança e que tenho problemas na cabeça e por isso imagino coisas. Só que eu sei que não sou doente e que tudo isso aconteceu comigo de verdade, por isso escrevi essa história, para o mundo saber que eu não sou louco. Por favor vocês precisam acreditar em mim. Repassem essa mensagem até chegar ao Senado. 

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Sobre a chuva fria de Porto Alegre

Eu não consigo suportar o silêncio e o apartamento quieto por muito tempo, então fecho o livro que leio enquanto olho pela janela e penso qualquer coisa sobre esse tempo louco de Porto Alegre. O dia tão estranho, tão cinzento, tão ambíguo, tão proustiano. Chove? Ainda não, mas é certo que vai chover. É o inverno suspenso no ar de Porto Alegre e divertindo-se às nossas custas. Ou nos querendo. Vocês concordam? Vocês acreditam que o inverno nos queira? Pois eu acredito, é claro que acredito. O frio, o vento, a garoa, o gato dormindo no colo, tudo é terrivelmente carinhoso que parece que te devora. Como a cidade, como o tempo, como o ser, como as mães, como as mulheres, como os amigos, como quase tudo neste mundo. Te querem para te ferrar melhor. E se nevasse eu acreditaria ainda mais. E seria mais bonito. 

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Às vezes a raiva simplesmente me sufoca. Outras vezes parece que ela me fortalece e se expande com o passar do tempo. Tenho um medo terrível de ser visto, notado e reconhecido. Uma sensação contínua de que eu sou uma mosca perante todo mundo, desnecessária, humilhada e ofendida. E todas essas torturas e torturazinhas acrescentam um sabor especial à minha raiva. Às vezes eu consigo até me embriagar com minha raiva. Há certas horas que a vida parece um colega chato que a gente atura porque não dá para ficar invisível. Quando faço tudo diferente, tudo acaba igual. Queria pelo menos uma vez me dar ao luxo de não sentir nada. 

sexta-feira, 26 de julho de 2013

saka saka saka saka saka saka sakamoto

saca muito o sakamoto 
me convenceu a dar uma boneca barbie para um garoto 
não saca pouco o sakamoto 
pena que o guri ficou puto e me deu um soco no escroto 

saka saka saka saka saka saka sakamoto 

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Não é pelos vinte centavos, é por que eu te amo

Não, não é por que eu fiquei em último lugar na seleção de doutorado, nem por que acabei ficando sem bolsa. Não é por que derramei café na roupa bem agora que estou saindo, nem por que ontem me atrasei para o cinema e perdi o comecinho do filme que eu queria muito ver. Não é por que eu não acho o papel no qual fiz aquela anotação importante sobre Ser e Tempo e nem por que não lembro o número do telefone que preciso discar. Não tem nada a ver com o fato de eu não saber mais sobre o que estou pesquisando e eu ter quase certeza que não conseguirei terminar o doutorado.  Tampouco é por que está muito frio e eu estou com saudade de algumas pessoas que estão longe.

Não é pelos vinte centavos, é por que eu te amo. Não tenho dúvidas que gosto de você e que daríamos certo juntos. Com você meu mundo ficaria finalmente completo e eu sou capaz de ver nossos filhos correndo e brincado e depois crescendo e depois nos dando netos. 

O problema é que eu te amo. Perto disso a tarifa do ônibus não significa nada. A fome que mata e devora tantas e tantas pessoas no mundo não tem importância nenhuma. A morte, a nossa mãe invisível, já não me preocupa. As derrotas do Grêmio e o fato de ele estar há mais de dez anos sem ganhar um título importante nem me incomoda mais. Os livros e as anotações em cima da mesa perderam completamente o seu sentido. As horas, os dias, os acontecimentos passam sem deixar o menor vestígio. As ofensas e as mentiras entram por um ouvido e saem por outro. Minhas notas caíram bastante semestre passado, mas para esse tipo de aborrecimento eu já nem ligo. Não é por que eu quis, mas é por que eu te amo. 

O problema é que eu te amo! Não tenho dúvidas de que eu queria estar mais perto. Juntos viveríamos mais de mil anos porque o nosso mundo estaria completo e perfeito feito um rinoceronte. Eu vejo nossos filhos brincando com seus filhos, que nos dariam bisnetos que brincariam com seus próprios filhos.  

Não é por que sei que você não virá que eu não escute o interfone tocando. Não é que eu esteja procurando no vazio do nada um pouco de sentido para andar comigo. O problema é que te amo. Não tenho dúvidas e não quero mais guardar segredo. Juntos morreríamos e o mundo sem a gente seria um deserto de espaço e de tempo, como o mundo desaparece quando morre o Dasein. Eu vejo os filhos dos filhos dos filhos de nossos filhos brincando. 

O problema é que eu te amo. Não é por que você não está aqui que eu não possa dizer que te amo. 

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Emily Thorne da Cidade Baixa (entre Puntel e Plasil)

Quando você passou por mim, atravessou o meu corpo, como se eu fosse um fantasma, ou você uma miragem. Com um vestido vermelho, cabelos loiros e cacheados, tão bonita que parecia fazer parte da abertura de algum seriado americano. Enquanto isso, na Lima e Silva, as pessoas estavam se divertindo loucamente e, em algum canto da cidade, um leproso, na cama, atirava o dedinho na porta para chamar a enfermeira que estáva ao celular no corredor do hospital. 

Eu duvido da existência de indivíduos que vivem a vida intensamente e se divertem loucamente como Benjamin duvidava da existência do progresso na História com H maiúsculo. Como se mede a vida para se dizer que ela é vivida intensamente?  Existe um bafômetro para isto? Ressaca e fotos. Estou perdendo o foco, parece.

Eu não sei o seu nome, então vou te chamar de Emily. Emily você é tão linda, tão cheia de vida e de cabelos. Aceita comer miojo de galinha caipira comigo no almoço de domingo, Emily? Quando você se afastava, o formato do seu rosto se distorcia e você ia ficando cada vez mais bonita e bonita. Você é, talvez, a menina mais bonita que eu já vi na minha vida. 

Desculpe se estou enrolando, é que estou preocupado. As pedras que eu atiro pela janela não caem na cabeça de ninguém. Já penso em usar objetos mais pesados: tijolos, panelas, Estrutura e Ser. Algumas pessoas merecem Puntel na cabeça. Se eu conseguisse acertar Tugendhat já ficaria feliz. Mesmo Heidegger aqui do quarto andar já causaria algum traumatismo. 

Emily, sabe como eu ando me sentindo desde que te vi? Peixinho preso num aquário. 

terça-feira, 9 de julho de 2013

Apaixonado por aquela pessoa ali

Gilson é do tipo que se apaixona rápido. Assim que apareceu uma pessoa um pouquinho mais simpática na sua vidinha podre, apaixonou-se, como tantas outras vezes se apaixonara por pessoas que foram um pouquinho mais simpáticas com ele. Por não estar acostumado a isso, por não estar acostumado com as pessoas sendo legais com ele, apaixonava-se por cada uma que o convidasse para passar algumas horas em sua companhia num bar no sábado à noite ou passear num domingo de sol. Encontravam-se, conversam, bebiam, e Gilson acreditava que aquele momento era único, pois conversava com uma pessoa que era legal  com ele e se interessava por sua vidinha podre. Mas a pessoa se interessava pela vidinha podre de Gilson como alguém se interessa por uma revista velha na sala de espera de um consultório médico. Gilson não sabia disso. Então ele se apaixonava. Contava detalhes insignificantes de sua vidinha podre entre um chopp e outro, falava de seu trabalho ridículo entre um drinque e outro. Quando bebia demais, dava quase para ler em sua testa que estava apaixonado. Ele mesmo dizia, para todo mundo e para a pessoa, que estava apaixonado. Os outros, que nunca estavam realmente interessados nele, não podiam fazer outra coisa do que ignorar. Ouviam, surpresos, aquela revelação e depois tratavam logo de colocar tudo em ordem. Explicavam que entre eles não poderia haver outra coisa que não amizade. Então acontecia com Gilson algo muito estranho, para não dizer absurdo. Uma grande raiva o dominava, e ele, de uma hora para a outra, desprezava as mesmas pessoas que antes gostava. Dizia que era melhor dar um tempo nas cervejas e nos encontros. Na verdade, não queria nem mais vê-las na frente. Assim do nadinha, a pessoa por quem estava apaixonado lhe era repulsiva. Não conseguia nem pensar nela sem sentir algum tipo de nojo. Dizia que precisava se afastar, que queria um tempo, mas nunca voltava. A amizade acabava ali. E hoje Gilson continua procurando uma pessoa que seja legal com ele e que se interesse por sua vidinha podre.   

terça-feira, 2 de julho de 2013

Frases feitas

Vou jogar uma garrafa com uma mensagem no mar da internet. Talvez alguém encontre. Talvez alguém até leia. Talvez alguém até goste. O hábito pode não fazer o monge, mas o tédio, sem dúvida, faz. E também me faz escrever assim no piloto automático, como o Barcelona tocando a bola ou o Schneider dando aula sobre Heidegger: firulas e pérolas e recortes sem aura. Qualquer coisa que hoje me leve do nada para lugar nenhum será bem vinda. Só não quero frases feitas. Há tantas maneira de não dizer quase nada. Há tantas maneiras de não fazer sentido. Eu escolhi a mais simples de todas. Quando se está apaixonado, pelo menos, tudo parece fazer sentido. Mas a paixão é mal educada. Chega sem pedir licença e vai embora quando a gente menos espera, sem nem ao menos se desculpar ou dizer obrigado. Num mundo onde tudo é calculado, a paixão pelo menos é espontânea, porém é caótica e imprevisível. Hoje as coisas duram menos do que a relevância de Sartre na filosofia e os posts do facebook não têm mais graça. Não me venham com frases feitas, hoje não. Já bastam as minhas. Não se trata de fazer drama e sofrer por antecipação. É que só a paixão justifica o ridículo de acordar todos os dias e fazer as mesmas coisas estúpidas e rir das mesmas piadas sem graça. Só a paixão justifica viver assim nesse mundo sem pontos e vírgulas, deselegante, sem metafísica, onde já não se pode distinguir com tanta clareza entre o ser e o não-ser. Abro um livro, qualquer um, em qualquer página. Todos parecem dizer o que eu já sei. Frases feitas? Hoje não, obrigado. Hoje eu não quero surpresas. Só queria algo familiar, como refrigerante com limão. Qualquer coisa parecida com barulho de chuva, colo de mãe ou futebol com os amigos. Só queria, hoje, sentir o mundo um pouquinho mais doce. 

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Queda

Quando você é só um estudante de graduação, você se impressiona com essas coisas: Heidegger, Aristóteles, Husserl, Benjamin,  Derrida, Tomás de Aquino, como se qualquer pessoa na rua estivesse disposta a responder pelo sentido de ser como tal e em seu todo caso você perguntasse. Mas com o tempo isso vai mudando. Você percebe que as histórias se repetem, que seus professores contam da mesma forma, com as mesmas entonações e você pode até citar exemplos de situações que volta e meia deixavam a voz de um professor embargada: Benjamin fugindo do Nazismo, Heidegger dando preleções numa cabana simples na Floresta Negra, Husserl escondendo sua descendência judaica. Alguma coisa muda quando você ouve e lê a mesma coisa sendo repetida, duas ou duzentas vezes, e de repente você não consegue mais acompanhar tudo isso, não consegue mais se sentir afetado por algo que aos poucos você percebe que tem muita pouca relação com a sua vida. E você ouve o Puntel falando (ser enquanto tal e em seu todo), depois de já ter lido centenas de páginas do Puntel explicando (ser enquanto tal e em seu todo) e vê o professor que você admira repetindo aquilo tudo (ser enquanto tal e em seu todo) e fica sem saber o que fazer com aquilo tudo (ser enquanto tal e em seu todo). Não é a mesma coisa quando você é adulto e você acorda às sete da manhã para ir na aula, o apartamento quase todo em silêncio (ser enquanto tal e em seu todo), você sem muita vontade saindo da cama, indo ao banheiro e à cozinha pegar algo na geladeira (ser enquanto tal e em seu todo) e depois você sai de casa e vai pegar ônibus (ser enquanto tal e em seu todo) e você olha para as pessoas caladas na parada do ônibus (ser enquanto tal e em seu todo) e você olha para as pessoas caladas dentro do ônibus lotado (ser enquanto tal e em seu todo) e você sente que não se encaixa no mundo (ser enquanto tal e em seu todo) e começa a sentir raiva de todo mundo (ser enquanto tal e em seu todo). E na aula você não presta atenção em nada, aquilo que o professor e os colegas dizem não passa de bolhas de sabão e você lembra de todas as vezes no semestre em que ouviu seu professor falar do ser enquanto tal e em seu todo e hesita e se sente derrotado e pensa que nada faz sentido (ser enquanto tal e em seu todo). É mesmo muito diferente quando você já é adulto e está sozinho (ser enquanto tal e em seu todo) e não tem dinheiro (ser enquanto tal e em seu todo) e tem medo do futuro (ser enquanto tal e em seu todo) e começa a se dar conta que está arrependido de todas as últimas decisões que tomou na sua vida (ser enquanto tal e em seu todo) e você sente raiva, uma raiva que só aumenta e aumenta e aumenta e quando você começa a culpar as outras pessoas pelo que está dando errado na sua vida você sabe que alguma coisa está errada com você (ser enquanto tal e em seu todo). 

sábado, 22 de junho de 2013

Reunião de condomínio fenomenológica

Hall de entrada do prédio Condomínio Compreensão e Finitude. Reunião de condomínio conduzida pelo síndico Edmundo. Também estão presentes Max, Martinho, Ernildo, João Paulo, Maurício e Emanoel. Síndico Edmundo bate na mesa para chamar a atenção de todos e começar a reunião. 

Síndico Edmundo (sentado na mesa da frente, com papeis nas mãos): Bom dia, meus senhores. Estamos dando início a mais uma reunião de condomínio aqui no nosso querido Condomínio Compreensão e Finitude. Segundo ficou acordado em nossa última reunião, e como consta na sua ata, começaremos hoje com as queixas do morador do 204, João Paulo, que diz que a existência é um absurdo, sobretudo desde que foi proclamada a morte de Deus. 
Max (adiantando-se a João Paulo): Eu moro nesse prédio há 22 anos e estou sempre querendo chamar a atenção para isso. Um problema sério que precisa ser resolvido o quanto antes. 
João Paulo: (um pouco exaltado): É verdade, e nunca ninguém faz nada. E olha o quanto a gente paga de condomínio todo mês. 
Síndico Edmundo: Calma, pessoal. E isso não é verdade, pois eu lembro que no começo do ano a imobiliária contratou um teólogo jesuíta para nos devolver a esperança. 
João Paulo: Mas o trabalho desse teólogo não teve a menor resistência. Lembro bem que só durou uns cinco dias de chuva. 
Max: Exato, quando a finitude não é considerada seriamente, faz-se um remendo e depois volta tudo como era antes. 
Síndico Edmundo: Pessoal, sinto muito, mas temos que colocar aqui alguma ordem e, se quisermos resolver alguma coisa, teremos que ser mais específicos. (Olhando para o papel). E aquele problema no quarto andar da suspensão do Dasein na angústia na clara noite do nada levantado pelo senhor Martinho do 405 na última reunião foi solucionado? 
Martinho (enfático): Completamente. 
Síndico Edmundo: Muito bem, então podemos seguir. Outro assunto: como está a ocorrer a pré-compreensão do ser nos apartamentos que se queixavam de falta de mundo da vida? 
Max: Olha, desde fevereiro que não tenho mundo da vida no meu apartamento. 
Martinho: Comigo acontece quase a mesma coisa. Eu começo a pré-comprender o ser e de repente o mundo da vida acaba. Já chamei até um técnico em psicanálise e até hoje ele não apareceu. 
Max (bravo): Esses psicanalistas são todos iguais, nunca cumprem os prazos. 
Síndico Edmundo (escrevendo): Certo, vou tomar nota disso. Outro assunto, o seu Emanuel do 101 se queixa que não consegue dormir por causa da penúria da linguagem quando se tenta predicar o ser de forma clara e objetiva na metafísica moderna. Mas isso é em qual hora, senhor Emanuel? 
Emanuel: Sobretudo as nove horas, pouco depois do jornal. Fica aquela predicação do ser de forma clara e objetiva justo quando eu estou tentando dormir, pois , como todos sabem, eu trabalho cedo. 
Martinho (um pouco irritado): Sinto muito ter que te dizer isso, mas nessa hora ainda é permitido predicar o ser, segundo as normas do condomínio. A partir das dez é que não. A partir das dez só se pode falar do ente e não mais do ser. 
Max: Aí o seu Martinho tocou num ponto importante. Devemos esquecer a predicação do ser e nos focarmos no confusão entre ser e ente. Muitos pensam que estão predicando o ser, quando, na verdade, predicam o ente. Um verdadeiro absurdo, se me permitem dizer. 
Síndico Edmundo: O senhor me desculpe, mas isso não consta no cronograma da reunião. Eu fui eleito síndico desse prédio pelo meu rigor e disciplina e pretendo continuar assim. 

Todos começam a discutir entre si repetindo frases fenomenológicas. O Síndico Edmundo começa a bater na mesa e a pedir ordem. Ernildo que ficou o tempo todo em silêncio ergue a mão e pede a palavra. 

Ernildo: Peço desculpas por interromper, mas é que eu tenho uma infiltração na minha cozinha. 

Todos fazem cara de que não entendem. 

Síndico Edmundo (bastante confuso): Tá, e a gente com isso? Não entendi. 
Martinho (irritado): Não nos perturbe com seus delírios, Ernildo. 
João Paulo: Calma, deixa eu ver se entendi. Essa tal de "infiltração" (fazendo aspas com os dedos) é uma metáfora para o velar e desvelar do ser para a compreensão finita do homem que está no mundo? 
Ernildo: Não, é apenas uma goteira que tenho na minha cozinha e que está me atrapalhando. 
Emanoel: Ah, então essa "infiltração" (fazendo aspas com os dedos) está te causando angústia? 
Ernildo: Não propriamente, apenas me deixa um pouco preocupado. 
Martinho ri tanto que quase cai da cadeira. Todos se olham sem entender. 
Síndico Edmundo (gritando): Então cale-se! Não venha querer ocupar nossas cabeças com problemas triviais. 
Ernildo: Peço desculpas. Eu peço desculpas por ter interrompido. Continuemos. 
Max (irritado): Creio que devemos colocar em pauta aquela aquela confusão entre o ser e o ente. 
Emanuel (mais irritado): Eu ainda não estou satisfeito com a questão da predicação do ser quando quero silêncio para dormir. 
Martinho (ainda mais irritado): Mas o barulho do outro sendo desconstruído não te aborrece, não é? 

Todos começam novamente a discutir falando frases fenomenológicas. 







quinta-feira, 20 de junho de 2013

Falácias e farmácias

A culpa é da passagem do ônibus, a culpa é dos vinte centavos. A culpa é da corrupção, da mídia, do Papa, do capitalismo, do individualismo. A culpa é do povo que é burro e não sabe votar. A culpa é do vizinho que só sabe beber e bater na mulher. A culpa é do tomate, que tá caro. A culpa é do Hulk no ataque da seleção. A culpa é do Zeca Pagodinho. E do Pelé. Quer saber, a culpa também é do Ronaldinho. Todo mundo já sabe disso na Área 51. 

Tá, não é quase nada. Afinal ano que vem tem Copa. O maior evento esportivo do mundo no maior país católico do mundo. Tudo no Brasil é grandioso: as passeatas, os protestos, o Maracanã, o Cristo Redentor, a Parada Gay, a bunda das mulheres. Deus é brasileiro. Jesus também é e comeu a Madonna. Lá fora já acabou. Agora chove e as águas lavam tudo. Lavam a alma e levam a lama. Lavando as ruas do decadente centro. 

A culpa é do PT, do PMDB, do PTB, do PPB, do Pepê e Nenê. A culpa é do Lula, que é analfabeto, a culpa é do Sarney, que continua lá, a culpa é do Feliciano, que quer curar os gays, a culpa é da Dilma, que tem cabelo feio, a culpa é do Heidegger, que não tematizou a pré-compreensão do ser. A culpa é do ser, de Deus, da aura, do outro, do nada. A culpa é do Luxemburgo. A culpa é dos teus olhos que ficam bonitos quando você defende Sartre. A culpa é minha por achar os teus olhos bonitos quando você defende Sartre. 

Sim, eu sei que a culpa é minha também. Já nasci pecador porque um tal de Adão não soube se comportar. Ser ou não ser não é uma opção. Humilhados e ofendidos, na eterna busca por sentido, distribuindo suas culpas, canonizando suas estrelas. A história não se altera e a raiva é necessária, mas passageira. O mundo às vezes parece um jogo ou uma brincadeira de mau gosto. É preciso cautela. A polícia é perigosa e pode pregar peças e pregos.

Pessoas procuram motivos e inventam motivos. Ontem, hoje e amanhã: sonhos, sedutores sonhos. De verdade, ninguém sabe nada. Tudo pode ser só algodão doce, sem realidade. A gente vive assim: entre falácias e farmácias. Pessoas perfeitas já nascem mortas. E eu depois de tudo só consigo pensar que me sinto mais próximo de pessoas que se protegem do frio com roupas de lã do que de pessoas que usam couro. Lã é o tecido mais querido que existe.Vamos ficar aqui, quase felizes, afirmando incertezas com toda a clareza e sofisticação. Até que o Nada nos engula.

sábado, 15 de junho de 2013

Dec

Hoje é o dia mais triste de todos. Você que sempre foi tão forte, hoje pode ser frágil e chorar porque hoje o dia é seu. Talvez quem fica sofra mais do que quem vai. Assim parece ser. Mas hoje o dia é seu. Hoje você pode chorar como uma criança que se perdeu dos pais no supermercado. Hoje você pode chorar, garoto, porque hoje é seu dia mais triste.

E você é só uma criança. Nunca chegou a ser digno de respeito ou de medo. Diferente dos outros. Só mais um garoto. Sem educação ou solenidades. Apenas um anjo caído, sem asas. Um garoto facilmente comprado com doces, dinheiro e um pouco de atenção na hora certa. E hoje é o seu dia mais triste. 

E na hora da despedida o medo vem. A namorada vira vadia e o irmão vira bicho. Alguns sonhos parecem mais reais do que as lembranças. E quando se é jovem todos os sonhos são pesadelos. Os meninos sonham acordados e depois são repreendidos por isso. Por isso hoje é o seu dia mais triste. 

Hoje é o seu dia mais triste, garoto. Hoje nenhuma música poderá consolar. Hoje nem seu sorriso poderá salvá-lo. O irmão não estará esperando com os braços abertos no Stowaway no final do dia. Nada de passeios de barco com a namorada e todo aquele dinheiro não faz mais sentido. Tudo fica distante e frio no dia mais triste, e hoje é o seu. 

Meninos não choram. Mas hoje, só hoje, você pode chorar. Para os que ficam, o amanhã, que pode ser bem depois de amanhã, não importa. Eles que voltem para guerra, com a cabeça erguida e orgulhosos como um samurai, como um gênio, como uma mãe, como um bilionário. Cicatrizados. Eles nunca mais vão olhar para o lado e ver o sorriso mais fiel, o mais bonito, o mais verdadeiro. 

Hoje é o dia mais triste de todos, garoto. 

Dedicado a D. P.


quarta-feira, 12 de junho de 2013

Vou esquecer, guardar tudo junto, empurrar com raiva e força para tudo poder caber dentro de mim. 

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Os carros

Escrever filosofia é solitário e solidário. Provavelmente alguém já disse isso, o que não me impede de dizer de novo. Solitário para quem escreve e solidário para quem lê. O processo é sempre sair do tédio e ir em direção às estrelas. Às vezes é chato, bem chato. É chato como amarrar os cadarços ou derrubar pasta de dente no uniforme do colégio. É chato. É tudo isso misturado e batido e bebido e esquecido. Lá fora os carros, buzinas, cachorros e gente. Lá fora a vida segue seca. Os carros passam voando. Os dias passam batidos. Os sonhos morrem. E o ser é. Aqui a falta de sono, os comprimidos, boa noite. É sempre quando o senhor Tédio passa para fazer uma visita. Ele sempre vem para dizer que você não é nada e que não vai fazer diferença. Não é que ele esteja errado. Somos mesmo poeira no vento. A vida é apenas um sonho dentro de um sonho de um deus que está quase acordando. A gente é a luz brilhando de uma estrela que nem existe mais. Mas e daí? Será que vai chover amanhã? Até quando na filosofia as pessoas vão usar o passado para justificar o presente? Será que a dor do outro dói mais? O senhor Tédio é muito amigo da Dona Insônia. E lá fora os carros. Os carros, estudantes, bichas, putas, advogados, publicitários. Cansados, vazios, quase felizes. Amanhã vai começar de novo.  É preciso acordar, fazer coisas, sentir-se útil. Café, conversas previsíveis, tudo de novo amanhã. Pegar mais coraçãozinhos, estrelinhas e moedinhas. Tudo tão velho já. O capitalismo é uma merda mas é o que tem pra hoje. Ninguém mais te espera de braços abertos na saída do colégio. Qualquer pensamento rascunhado num guardanapo de bar vale mais que toda a Crítica da Razão Pura. Filosofar é expressar leves noções fragmentadas e desconectas de um todo impossível de ser. Quando nada no mundo te conforta mais do que o barulho dos carros passando lá fora, os carros passando, lá fora, os carros, passando, os carros. Vocês conseguem escutar os carros?  O escravo que escreve filosofia só gosta das perguntas. Eu não sei o que faço com o Chaleira. Talvez ele corte os pulsos e vá viver lá fora com os carros. Vou dormir sem respostas. 

domingo, 2 de junho de 2013

Para Cidade Baixa, com carinho

Tudo falta. Falta o outro, o ser, o nada.  Falta aura. Falta o abraço e o toque. A troca de olhares. A conversa.

Falta o riso despretensioso em momentos irrelevantes. O comentário simpático sobre algo extremamente desagradável. Falta sentir-se junto. Falta falar com alguém. Falta até a irritação de se seguir a mesma rotina. Falta vida.


Tudo sobra: o barulho irritante de cidade grande no final de semana, a vida que se perde no meio do concreto e da noite, os mendigos sujos e fedidos pedindo moedas, o cheiro da grama em um domingo movimentado na Redenção. Sobra vida. 

Tudo novamente assim: em oposição. 

sexta-feira, 24 de maio de 2013

DICAS DO CHALEIRA: COMO SE DAR BEM NA BALADA (A VOLTA DO CHALEIRA DE RAIZ)

ATENÇÃO GALERA ESSE É O POST RELÂMPAGO DO CHALEIRA E VOCÊ CORRE O RISCO DE MORRER ELETROCRUCIFICADO!!!

Olá meus pequenos.  Eu sei que ultimamente eu tenho estado diferente e fazendo um monte de posts gays (não héteros) e eu sei que assim eu só decepcionei o meu público mais conservador, o público que gosta do Chaleira tradicional, o Chaleira de raiz, o Chaleira que joga com dois ponteiros abertos, o Chaleira da alegria e da ousadia S2 KKKKKKKKK. Pois então, eu voltei e para voltar com chave de couro eu darei essas dicas que vão cair como uma luva para os olhos de todos aqueles que querem se dar bem na balada (só com as gatas).

QUEM É QUE NUNCA FOI DIGITAR YOUTUBE PARA VER VÍDEOS DE GATINHOS SÓ QUE AÍ DIGITA REDTUBE E CAI NUM SITE CHEIO DE VÍDEO COM MULHERES COM PINTOS NA BOCA??????? ABRE O OLHO BRASIL!!!

Agora sim, as dicas:

1) SEJA VOCÊ MESMO:
É sempre muito importante ser você mesmo. Então agora corra lá no espelho do banheiro e veja se você  é você mesmo ou se você é o o Cabeção da Malhação. Vai lá e volte.

Voltou?

Aposto que você nem foi kkkkkkkkkk

Supondo que você tenha ido: o que você viu? Você precisa se perguntar com sinceridade: se você fosse uma mina, você pegaria o seu eu masculino? (affffff isso nem fez sentido""""). Claro que não pegaria né? Você tá todo errado aí todo feio barba por fazer cabelo zoado um trapo sem tomar banho fedendo dente podre queixo no nariz placas bacterianas nas sobrancelhas jesus no coração todo remelado. Amigo, você tá podre e tá envergonhando a classe dos homens héteros que não são gays! Que mulher que vai te querer???

Aí eu chego na segunda dica (to todo metódico hoje, pareço o Puntel MAS NÃO BEIJO OUTROS RAPAZES TÁ????):

2) SEJA METROSSEXUAL
Ou seja: seja como uma menina, seja metrossexual, seja cheirosinho, ande perfumado, faça as unhas, faça limpeza de pele (vale a pena é uns 50 reais mais ou menos e dura um tempão), use creme hidratante, passe  esfoliante na cara (só não dê o cu tá kkkkkkk brinks pode dar sim to nem aí). Valorize-se porque se você não se amar quem será contra nós??? Valorize-se mesmo que seu valor seja 17 dinheiros, mas na vida é assim você tem que escolher entre a grana e o amor.

3) USE UNS PANO MASSA.
Olha você não vai pegar ninguém se ficar com camisa de banda porque a gente sai na rua e os mendigos tão todos vestindo camisa do AIRONMEIDEM então vamos se ligar nisso aí. Se for pra usar camisa de banda, use camisa de bandas que as minas curtem tipo Vagabanda, LSJakc, Menudos, Upepe e Nenê, Ostra Vessos, Adriana e o Rapa Ziada, entre várias outras. Em geral é bom evitar camisetas de bandar porque pensa bem né: o percentual de mulheres que se interessam por você já é pequeno, agora pegue esse número pequeno e crie o subgrupo "meninas que te pegariam até mesmo com você vestindo uma camisa do OZI". Não rola né?

4) OZA MIGO
Já foi comprovado pela ciência que todos os animais comem com o rabo porque não podem tirar o rabo para comer KKKKKKKKKK afff nadaver. Foi também comprovado em pesquisas sérias que os animais costumam sair para caçar as minas em grupo. Ou seja: mesmo os leões preferem caças em cardumes. Leve essa alegoria do reino animal para sua balada e sempre saia com seus amigos.
O amigo vai te ajudar tanto psicologicamente quanto fisiologicamente. Ele estará lá para fortalecer na brodagem nos momentos mais difíceis e para fazer a frente com as mina e se ele for amigo mesmo até fica com a mais feinha e deixar a trevesti gata para você.
Um exemplo de cara que pega muita mulher é o nosso grande (grande mesmo porque ele é muito forte macho alpha ombros largos) amigo Estênio Garcia. Ele nunca sai para caçar as gatas sozinho porque ele prefere sair sempre com seu fiel escudeiro e best friend forever André Marquez o eterno Mocotó de Malhação. Tem uma galera que fica com inveja porque ele pega muitas gatas e tal e então fica o recado aí: ANTES DE ME CRITICAR PEGA A SENHA!!!!1

4.1.2.7.9.3) ESTUDE GEOGRAFIA
Calma que já vai fazer sentido.

5) ESCUTE FUNK
Não sei explicar por que mas depois que eu comecei a curtir funk começou a cair um monte de mina em cima de mim sério mesmo tá demais. Acho que é essa marra carioca, essa coisa quente, o corpo masculino que rebola e meche com os desejos mais íntimos das mulheres, esse ritmo tropicalhente, não sei explicar, mas que funciona funciona LEK LEK LEK LEK LEK LEK

6) O FLERTE
Essa é a parte mais importante, então vamos ficar ligados. Antes eu preciso deixar uma coisinha bem clara: beba apenas o suficiente para se soltar um pouco, não beba demais, sério mesmo, porque senão,meu amigo,  você pode acordar no outro dia com uma dor de cabeça infinita pelado numa banheira cheia de gelo e limão com uma cicatriz enorme no peito e com um pé de cabra no ânus (noite massa aquela rsrsrsrrsrsrsrsrs).
Então beba apenas 2 ou 3 latas desser veja e comece a dançar porém de um jeito hétero sem ser vulgar. Veja a gatinha lá na pista de dança e se prepare para o ataque. Pegue uma heidegger e vá falar com ela. Siga o roteiro. Põe na tela diretor:
- Oi
- Oi
- Tá sozinha? - pode falar também "tá acompanhada?" -
Aí ela pode dizer que tá com as amigas ou que tá sozinha ou que tá acompanhada de outro man. Nesse caso você tem que sair fora porque ela pode estar acompanhada do Estênio Garcia e ele só foi no banheiro dar um mijão rapidinho e já tá voltando com sangue nos zóio pra te matar na porrada.
Se ela disser que está com as amigas significa que você ainda está vivo no jogo. Muita calma nessa hora porque tudo vai depender da pergunta que virá depois. Você deve perguntar:
- Você é de onde?
E ela responde:
- Girau do Ponciano.
(é aqui que entra o ponto 4.1.2.7.9.3 ESTUDAR GEOGRAFIA: você já deve saber alguma coisa da região da cidade dela e a partir disso vai puxando assunto)
- Legal, fica no Alagoas né? Terra da capivara manca. Muito bonita
(nesse momento ela já está pasma com seu conhecimento e está pensando "cara inteligente, bom de papo, por que não?")
Não dê tempo para o azar e continue:
- Meu tio mora lá, o seu Ademilson. Conhece? É um velho que usa um tapa-olho -- tudo mentira mas é assim mesmo, o segredo é ir conversando enquanto vocês dançam e aí você vai botando a mão na cinturinha dela e cita Puntel no ouvido dela KKKKKKKK sério mesmo funciona nem sei como KKKKKKK.

Daí pra frente é com você, amigão. Elogie o perfume dela, diga que ela lembra a seu irmão que morreu queimado num assalto, fale mais das capivaras de Girau do Ponciano, como vegetais, não polua. Vai dançando junto, pegando mais na cintura, citando Puntel em alemão e daí vai ser como dizem os jovens: só correr pro abraço (que pode ter dois significados: você pode se dar bem e dar uma bimbada ainda nessa noite ou levar ela para um motel mas a pepeka dela vai ter AIDS :(

Ou então a mina não vai ficar a fim e vai se afastar. Acontece, não precisa entrar em pânico. Deixa quieto e parte para outra porque não vale a pena perder seu tempo com essa cuzona QUEM PERDEU FOI ELA PENSE NISSO.

Mas se você se der bem, eu não vou te abandonar na hora mais importante: o beijo. Então vou dar dicas dentro das dicas e ensinar como se beija gostoso na boca. O que eu vou ensinar aqui eu aprendi na escola da vida PENA QUE RODEI DOIS ANOS AFFFFF

PRIMEIRAMENTE:

Essa dica é para você nerd: cuidado com o mau hábito então use uma paste de dente

CUIDADO COM AS PLACAS DE VÍDEOS BACTERIANAS!!!! NÃO ESCOVAR OS DENTES PODE OCORRER EM VÍRUS OU EM RÉPTEIS NA BOCA COMO O TÁRTARO GANINJA RSRSRSRS

Para beijar gostoso eu aconselho você a treinar bastante. Pode ser como uma laranja e chupe-a fazendo movimentos sensuais (sério, uma menina do colégio me ensinou quando eu era BV nunca vou esquecer até porque foi semana passada). Então você fica lá no seu quarto chupando a laranja e beijando a laranja e é nesse momento que seu pai entra no quarto e você percebe que não está beijando uma laranja e sim uma banana e você percebe que está beijando ela com as nádegas QUEM NUNCA???????

UM BEIJO BEM BEIJADO TEM QUE SER MOLHADINHO COM O GOSTINHO DO PECADO HUUUUUUUUM RSRSRSRS


Para terminar vou deixar aqui uma listinha com os tipos de beijo que você pode tentar:

BEIJO GIRATÓRIO: é aquele que as línguas se encontram e ficam girando em um turbilhão de prazer e logo se parte para mais porque ninguém quer ficar apenas no beijo e quando o casal vê estão nus fazendo sexo no meio da boate.

 BEIJO DE NAMORADINHO: é aquele beijo que os namoradinhos dão quando tão na sala com a família vendo o Faustão OLOKO MEU e aí quando os pais dela vão dormir rola a mão naquilo aquilo na mão kkkkkk se vocês tão rindo é porque fizeram rsrsrsrsrsrs eu não to rindo porque nunca fiz afffff

BEIJO FANTÁSTICO: é aquele beijo apaixonante que você dá na pessoa, logo se apaixona e aí aparece o Cid Moreira kkkkkkk que que eu to falando mesmo??????

BEIJO GREGO: Esse aí é quando você fica com um filósofo num evento sobre Platão.

BEIJO CALMA AÍ MEU: Esse aí minha ex falava pra mim direto pena que ela nunca falou isso e nem sequer existiu.

É isso aí, gente. Espero que todos vocês tenham aprendido alguma coisa hoje. Se quiserem me seguir no twitter para beijar muito podem seguir lá só que melhor que não porque fico com vergonha SÉRIO.



quarta-feira, 15 de maio de 2013

Eu nasci com um irmão gêmeo. Sempre fomos só nós dois. Eu e o Fracasso.

No ônibus CAMPUS - IPIRANGA...

Há pessoas que vão para a PUC.
Há pessoas que vão para a UFRGS.
Há pessoas que eu não sei para onde vão.
Há pessoas que estão indo trabalhar.
Há pessoas que estão indo estudar.
Há pessoas que nunca leram Heidegger.
Há pessoas que me veem.
Há pessoas que fingem que não me veem.
Há pessoas que falam.
Há pessoas que não falam nada. 
Há pessoas que pensam que o mundo está errado.
Há pessoas presas àquilo que fingem ser. 
Há pessoas com mania de perseguição. 
Há pessoas que não são nem um pouco gentis.
Há pessoas gentis. 
Há pessoas que são gentis demais. 
Há pessoas que conversam. 
Há pessoas que conversam e me causam bocejos. 
Há pessoas que não enxergam as minhas agonias. 
Há pessoas que eu não enxergo suas agonias. 
Há pessoas que se sentem tão confusas quanto eu.
Há pessoas que se sentem mais confusas do que eu.
Há pessoas que passam frio.
Há pessoas que passam fome.
Há pessoas que vão morrer.
Há pessoas que vão morrer em breve.
Há pessoas que vão viver o bastante para se apaixonar algumas vezes.
Há pessoas que nunca ouviram falar de metafísica. 
Há pessoas que são felizes (provavelmente as mesmas que nunca ouviram falar de metafísica).
Há pessoas que têm medo de baratas.
Há pessoas que têm medo de fantasmas.
Há pessoas que têm medo de ladrão. 
Há pessoas que acham que o desespero de estar vivo não é por si só um drama.
Há pessoas que estão ligeiramente erradas. 
Há pessoas que entendem e aceitam isso.
Há pessoas que não entendem e não aceitam isso.
Há pessoas que tomam como missão de vida convencer outras pessoas de alguma verdade. 
Há pessoas que não aprenderam a nadar.
Há pessoas que sabem nadar mas têm medo de se perder no mar.
Há pessoas amam o mar porque isso lhes diz alguma coisa tão grande que não cabe numa frase. 
Há pessoas que são indiferentes ao mar. 
Há pessoas engraçadas pelas quais eu teria empatia.
Há pessoas que eu ficaria feliz só de conhecer.  
Há pessoas que vão ler um livro ainda hoje. 
Há pessoas que acham tão bonitas as nuvens em um dia nublado. 
Há pessoas que não olham para as nuvens. 
Há pessoas que sentem uma dor sem nome. 
Há pessoas que ficam tristes quando chove.
Há pessoas que ficam a aula toda olhando as gotas de chuva bater no vidro da janela.
Há pessoas que choraram quando o Grêmio foi campeão do mundo.
Há pessoas que não viram o Grêmio ser campeão do mundo.
Há pessoas que não sabem se o dinheiro vai dar para o mês todo.
Há pessoas que não sabem que pensam e que operam com o conceito de ser.
Há pessoas que nunca pensam como é estranho que seu apê fique vazio e sem movimento enquanto elas estão no trabalho ou na aula.
Há pessoas que lotam o ônibus CAMPUS-IPIRANGA usando seus fones de ouvido mas quando chegarem em casa se sentirão tão sozinhos quanto eu.