quarta-feira, 15 de maio de 2013

No ônibus CAMPUS - IPIRANGA...

Há pessoas que vão para a PUC.
Há pessoas que vão para a UFRGS.
Há pessoas que eu não sei para onde vão.
Há pessoas que estão indo trabalhar.
Há pessoas que estão indo estudar.
Há pessoas que nunca leram Heidegger.
Há pessoas que me veem.
Há pessoas que fingem que não me veem.
Há pessoas que falam.
Há pessoas que não falam nada. 
Há pessoas que pensam que o mundo está errado.
Há pessoas presas àquilo que fingem ser. 
Há pessoas com mania de perseguição. 
Há pessoas que não são nem um pouco gentis.
Há pessoas gentis. 
Há pessoas que são gentis demais. 
Há pessoas que conversam. 
Há pessoas que conversam e me causam bocejos. 
Há pessoas que não enxergam as minhas agonias. 
Há pessoas que eu não enxergo suas agonias. 
Há pessoas que se sentem tão confusas quanto eu.
Há pessoas que se sentem mais confusas do que eu.
Há pessoas que passam frio.
Há pessoas que passam fome.
Há pessoas que vão morrer.
Há pessoas que vão morrer em breve.
Há pessoas que vão viver o bastante para se apaixonar algumas vezes.
Há pessoas que nunca ouviram falar de metafísica. 
Há pessoas que são felizes (provavelmente as mesmas que nunca ouviram falar de metafísica).
Há pessoas que têm medo de baratas.
Há pessoas que têm medo de fantasmas.
Há pessoas que têm medo de ladrão. 
Há pessoas que acham que o desespero de estar vivo não é por si só um drama.
Há pessoas que estão ligeiramente erradas. 
Há pessoas que entendem e aceitam isso.
Há pessoas que não entendem e não aceitam isso.
Há pessoas que tomam como missão de vida convencer outras pessoas de alguma verdade. 
Há pessoas que não aprenderam a nadar.
Há pessoas que sabem nadar mas têm medo de se perder no mar.
Há pessoas amam o mar porque isso lhes diz alguma coisa tão grande que não cabe numa frase. 
Há pessoas que são indiferentes ao mar. 
Há pessoas engraçadas pelas quais eu teria empatia.
Há pessoas que eu ficaria feliz só de conhecer.  
Há pessoas que vão ler um livro ainda hoje. 
Há pessoas que acham tão bonitas as nuvens em um dia nublado. 
Há pessoas que não olham para as nuvens. 
Há pessoas que sentem uma dor sem nome. 
Há pessoas que ficam tristes quando chove.
Há pessoas que ficam a aula toda olhando as gotas de chuva bater no vidro da janela.
Há pessoas que choraram quando o Grêmio foi campeão do mundo.
Há pessoas que não viram o Grêmio ser campeão do mundo.
Há pessoas que não sabem se o dinheiro vai dar para o mês todo.
Há pessoas que não sabem que pensam e que operam com o conceito de ser.
Há pessoas que nunca pensam como é estranho que seu apê fique vazio e sem movimento enquanto elas estão no trabalho ou na aula.
Há pessoas que lotam o ônibus CAMPUS-IPIRANGA usando seus fones de ouvido mas quando chegarem em casa se sentirão tão sozinhos quanto eu. 

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