Tô em outra. Enquanto corre a aula de Introdução aos Estudos Literários, eu penso na cafeteira que deixei ligada lá em casa, na cafeteira ligada esquentando até explodir o apartamento com meu rinoceronte lá dentro. Homenzarrão mugia demais hoje de manhã, tirou-me a paciência. O nome dele é Homenzarrão. O meu rino, que essa altura da aula deve estar despedaçado.
Queria poder ler Onetti durante todo o semestre do curso. Posiciono o livro por trás do Fulano que se senta na minha frente e pronto: mais duas horas de leitura por quarta-feira. Onetti me entende e apóia o bom proveito desse tempo gasto na minha vida. Ele sabe o que é relevante de se pensar (e de não se pensar). Estou inclusive cogitando indicar El Pozo à profe de Letras. Vou descobrir o dia do aniversário dela e dar-lhe o livrinho. Farei a seguinte dedicatória em letra de fôrma bem bonita: "Para a querida profe de Letras, uma excelente fonte de leitura para as noites tediosas e solitárias de sexta-feira". Ela há de me agradecer. Ou se jogar do apartamento. Provavelmente vá se jogar do apartamento. E a causa da morte será: homicídio doloso antecedido de tortura existencial da vítima contra as suas verdades mais íntimas. Ela e meu rino Homenzarrão, ambos mortos graças ao meu talento de presentear o mundo com coisas tristes. Pelo fim do Homenzarrão eu não pagarei, basta enterrá-lo no jardim - servirá de semente para uma árvore de rinocerontes. Quanto à senhora professora de Letras, escaparei com o argumento de honestidade intelectual. E hei de ser louvado um dia na universidade.
Ou é melhor ir para outro canto. Mas por enquanto é o jeito. Foda a realidade. Foda tudo. Tudo geralmente assim: em oposição.
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