Quero ter uma conversa muito séria com vocês. Vocês já reparam como estudantes de filosofia vão perdendo a "vida" ao longo de seus estudos? No final eles se tornam todos iguais: caveirinhas duras quase sem nenhuma expressão, levando suas vidas com uma firmeza absoluta. A razão disso é que é impossível estudar filosofia com alguma profundidade sem perder a espontaneidade. É como se fosse impossível, hoje em dia, tratar de questões como o tempo, a linguagem, a realidade, o conhecimento, sem perder o que você tem de melhor enquanto ser humano. Você vira, por assim dizer, um metapesamento, que é mais ou menos como abrir a boca para falar e ficar ali parado, com a boca aberta. Você vira estátua. Todo estudante de filosofia é meio estátua, uma coisa que não tem mais vida. E é diferente daquilo que acontecia com o Chaves, quando dava aquele troço nele, porque bastava joga água e ele voltava ao normal. No caso do estudante de filosofia não é brincadeira. Ele deu pausa no próprio sistema. Observem um pós-graduando em filosofia caminhando: sem conseguir mais se mexer sozinho, é como se ele estivesse esperando um guincho que vai transportá-lo para o próximo evento de Epistemologia Social.
Quando você entra no terreno desses estudos (só posso sentir pena de você) você poderá cumprir apenas uma grande arte: a arte de ficar paralisado e calado mas de boca aberta. Deixo aqui o meu apelo aos leitores desse blog: mantenham distância dos livros pós-metafísicos, nos quais reina a discussão sobre linguagem, mundo, jogos linguísticos, masturbação mental, o cu metafísico flertando com você. E isso tudo depois do nosso camarada Wittgenstein nos alertar para pararmos de discutir certas coisas. Sério, me digam: discutir pra quê? Pra quem? Você lembram do Wittinho? Ele disse assim: ei, seus otários, calem-se calem-se calem-se que vocês me deixam louco! Ele disse bem dito. E alguém obedeceu? A gente se calou? Não. Ninguém. Nem eu. Então você estudante de filosofia está condenado a virar estátua de sal. Condenado a virar um robozinho sem espontaneidade nenhuma. Ao menos que você volte atrás: desaprenda, esqueça. Se não for possível esse retorno, resta apenas uma única solução: pare de pensar.
Sabe, a gente deveria colar post-its com esses lembretes em todos os cantos, em todas as paginas de livros de filosofia. Se bem que isso pode ser pior. Porque ficar repetindo "preciso esquecer, preciso esquecer, preciso esquecer" não vai ajudar a esquecer.
Sabem o que eu acho desses estudantezinhos de filosofia? Para mim eles se parecem com esses doentes com alguma doença terminal mas que não querem tocar no assunto de sua doença. É um esforço de não se pensar na realidade que se está. O estudante de filosofia é uma estátua doente, sobre cuja doença não se fala. O que fazer para que novas estátuas não apareçam no meio da gente? O que fazer para que algo se mantenha vivo na filosofia? Vida. De novo.Urgentemente. Por favor.
Então vamos combinar uma coisa? Vamos combinar de parar de falar "por quê?", "como assim?", "estamos justificados?" "existe o domínio de todos os domínios?". Vamos acabar com essas questões. Não por não podemos respondê-las, mas para que voltemos a ser pessoas com alguma espontaneidade, com alguma disposição para o imprevisto. Vamos nos tornar pessoas sem questionamentos filosóficos, mas com vida. Rápido: rasguem tudo o que for abstracionismo, lógica, metafísica, epistemologia e vivam. Só acreditem em livros instrumentais: jardinagem, costura, decoração.
Por enquanto é só isso. Um beijo e até breve.
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