Gilson é do tipo que se apaixona rápido. Assim que apareceu uma pessoa um pouquinho mais simpática na sua vidinha podre, apaixonou-se, como tantas outras vezes se apaixonara por pessoas que foram um pouquinho mais simpáticas com ele. Por não estar acostumado a isso, por não estar acostumado com as pessoas sendo legais com ele, apaixonava-se por cada uma que o convidasse para passar algumas horas em sua companhia num bar no sábado à noite ou passear num domingo de sol. Encontravam-se, conversam, bebiam, e Gilson acreditava que aquele momento era único, pois conversava com uma pessoa que era legal com ele e se interessava por sua vidinha podre. Mas a pessoa se interessava pela vidinha podre de Gilson como alguém se interessa por uma revista velha na sala de espera de um consultório médico. Gilson não sabia disso. Então ele se apaixonava. Contava detalhes insignificantes de sua vidinha podre entre um chopp e outro, falava de seu trabalho ridículo entre um drinque e outro. Quando bebia demais, dava quase para ler em sua testa que estava apaixonado. Ele mesmo dizia, para todo mundo e para a pessoa, que estava apaixonado. Os outros, que nunca estavam realmente interessados nele, não podiam fazer outra coisa do que ignorar. Ouviam, surpresos, aquela revelação e depois tratavam logo de colocar tudo em ordem. Explicavam que entre eles não poderia haver outra coisa que não amizade. Então acontecia com Gilson algo muito estranho, para não dizer absurdo. Uma grande raiva o dominava, e ele, de uma hora para a outra, desprezava as mesmas pessoas que antes gostava. Dizia que era melhor dar um tempo nas cervejas e nos encontros. Na verdade, não queria nem mais vê-las na frente. Assim do nadinha, a pessoa por quem estava apaixonado lhe era repulsiva. Não conseguia nem pensar nela sem sentir algum tipo de nojo. Dizia que precisava se afastar, que queria um tempo, mas nunca voltava. A amizade acabava ali. E hoje Gilson continua procurando uma pessoa que seja legal com ele e que se interesse por sua vidinha podre.
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