Vou jogar uma garrafa com uma mensagem no mar da internet. Talvez alguém encontre. Talvez alguém até leia. Talvez alguém até goste. O hábito pode não fazer o monge, mas o tédio, sem dúvida, faz. E também me faz escrever assim no piloto automático, como o Barcelona tocando a bola ou o Schneider dando aula sobre Heidegger: firulas e pérolas e recortes sem aura. Qualquer coisa que hoje me leve do nada para lugar nenhum será bem vinda. Só não quero frases feitas. Há tantas maneira de não dizer quase nada. Há tantas maneiras de não fazer sentido. Eu escolhi a mais simples de todas. Quando se está apaixonado, pelo menos, tudo parece fazer sentido. Mas a paixão é mal educada. Chega sem pedir licença e vai embora quando a gente menos espera, sem nem ao menos se desculpar ou dizer obrigado. Num mundo onde tudo é calculado, a paixão pelo menos é espontânea, porém é caótica e imprevisível. Hoje as coisas duram menos do que a relevância de Sartre na filosofia e os posts do facebook não têm mais graça. Não me venham com frases feitas, hoje não. Já bastam as minhas. Não se trata de fazer drama e sofrer por antecipação. É que só a paixão justifica o ridículo de acordar todos os dias e fazer as mesmas coisas estúpidas e rir das mesmas piadas sem graça. Só a paixão justifica viver assim nesse mundo sem pontos e vírgulas, deselegante, sem metafísica, onde já não se pode distinguir com tanta clareza entre o ser e o não-ser. Abro um livro, qualquer um, em qualquer página. Todos parecem dizer o que eu já sei. Frases feitas? Hoje não, obrigado. Hoje eu não quero surpresas. Só queria algo familiar, como refrigerante com limão. Qualquer coisa parecida com barulho de chuva, colo de mãe ou futebol com os amigos. Só queria, hoje, sentir o mundo um pouquinho mais doce.
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