sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Cássia II

Eu sou o buraco na sua cabeça e sou a dor no seu pescoço. Eu sou o nó na sua garganta e sou o aperto no seu coração. Eu sou o arrepio na sua espinha e sou o cisco no seu olho. Eu estou no lamber de seus lábios e estou na ponta de sua língua. Eu sou o pesadelos de seus sonhos, sou aquela sensação de queda. Eu sou a doença e sou a agulha e seus remédios. Eu sou a bebida e sou sua ressaca pela manhã. Eu sou a sua sorte e sou o seu azar. Eu sou o seu amor e sou o seu ódio. Eu sou Cássia. 

Eu sou ao motivo de você faltar ao trabalho e passar a tarde num quarto sujo de motel com as paredes transpirando. Eu sou a pessoa com quem você rola na cama e que mata uma fome que parece ser de dias. Eu sou o cheiro que nessas horas vira o seu cheiro e eu sou o gesto que nessas horas vira o seu gesto. Tudo isso em meio a gritos, promessas e juras de amor enquanto suamos e transpiramos embaçando o vidro da janela. Eu sou a pessoa com quem você cai na cama, encharcado de suor. É por mim que você vai abandonar sua mulher e seus filhos. Eu sou Cássia.  

Eu sou a pessoa pra quem você vai buscar uma garrafinha de água depois. Eu sou a sede que vira a sua sede. Eu sou quem, na volta, você encontra na cama ofegante. Eu sou quem dá três ou quatro goles de água sem se preocupar se ela escorre ou não pela pele, se ela cai ou não nos lençóis ainda quentes. Eu sou com quem você vai recomeçar mesmo sem nunca ter chegado ao fim. Eu sou a boca que você ainda sente gelada da água no beijo. Eu sou quem vai evaporar até desaparecer com o vento gritando dentro da sua cabeça "para sempre". Eu sou quem você nunca vai ter para sempre. Eu sou livre. Eu sou assim: Cássia

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