quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Quem não caga é coxinha

O que começou apenas como um evento fake organizado pelo Facebook acabou se tornando a maior manifestação política da história recente de Porto Alegre. A descrição do evento, feita sabe-se lá por quem e com qual intenção, era a seguinte: "Em assembléia realizada no último domingo, que contava com mais de 500 pessoas, o Bloco de Lutas decidiu fazer um grande ato reafirmando sua luta por um transporte 100% público, pelo passe livre, nenhum aumento de passagem e contra a Copa da Fifa. Então o bloco convida  a todxs a se concentrarem em frente a prefeitura, fortalecendo o movimento e CAGANDO ATÉ A VITÓRIA. Convocamos todxs xs estudantes e trabalhadorxs para se somar em luta. SE A PASSAGEM AUMENTAR, PORTO ALEGRE VAI CAGAR. NÃO TEM HISTÓRIA, É CAGAÇO ATÉ A VITÓRIA". O que era evidentemente uma piada acabou ganhando força e chegou a ter quase 15 mil pessoas com participação confirmada. O próprio Bloco, após anos de luta e organizadores do protesto, acabaram simpatizando com a ideia de um protesto diferente, que poderia chamar a atenção dos políticos corruptos e assumiram o Cagaço Porto Alegre. 

A ideia até que era muito boa: ela seguia o cânone do famoso "panelaço" que ficou famoso recentemente na Argentina, só que além do barulho, o Cagaço também visava chamar a atenção pelo fedor dos peidos gasosos e das bostas dos manifestantes. Cerca de 10 mil pessoas se reuniram no dia do evento na praça central de Porto Alegre e marcharam com convicção e gritando palavras de ordem rumo à prefeitura. Chegando até o local, a turma de cagões entrou em formação: mais de mil canhões de cocôs humanos foram armados. Cada um virou-se de costas, arriou as calças e começou a cagar. 

A polícia não sabia o que fazer porque não fazia ideia do que estava acontecendo; repórteres chegaram ao local em meio ao mau-cheiro e ao mar de bosta que virou a frente da prefeitura. Um cornetaço de peido sincronizado, que nunca antes havia sido ouvido na história desse país, tomava conta das ruas de Porto Alegre. Faixas diziam coisas do tipo: O gigante acordou com diarreia, Não vai ter Copa, vai ter bosta. E num megafone alguém repetia sem parar: Quem não caga é coxinha,quem não caga é coxinha, quem não caga é coxinha, quem não caga... 

"Enquanto não for transporte 100% público, a gente vai continuar cagando" -- disse o representante do movimento para um repórter. Mas logo chegou a notícia de que o batalhão de choque da Polícia Militar havia sido mobilizado. Os policiais, nos arredores, já estavam revistando a mochila de quem ainda estava chegando e prendiam em flagrante quem estivesse portando ovo cozido ou feijão. "Vamos é fechar o cu desses vagabundos na porrada mesmo" -- um policial acabou gritando sem perceber que estava sendo filmado. 

Logo já estava instaurado o caos. Das quase 10 mil pessoas presentes na manifestação, um pequeno grupo começou a juntar a bosta já cagada no chão e arremessá-la nas janelas da prefeitura. "É bom destacarmos que é apenas um pequeno grupo de baderneiros que está arremessando as bostas, pois o manifestante de verdade está apenas cagando" -- Dizia um repórter ao vivo para o jornal da noite -- "Repito, a maioria das pessoas é pacífica e está fazendo um protesto apenas cagando e sem vandalismo". "Essas pessoas que depois de cagar jogam as bostas na prefeitura e nos policiais de forma alguma representam o nosso movimento" -- defendia-se o líder do Bloco. Um jovem, estudante de Ciências Sociais da UFRGS, se sobressaiu em meio à multidão, causando alvoroço, devido ao fedor e a quantidade absurda de bosta que cagava em razão de todos os almoços feitos no RU e da quantidade de livros Karl Marx já lidos, e acabou sendo preso pela PM. Um policial, já sem saber o que fazia, pensou ter ouvido um peido e acabou disparando um tiro de bala de borracha em uma repórter. Diante do despreparo e da truculência da Polícia Militar, os manifestante começaram a revoltar-se ainda mais e em pouco tempo já tinha gente cagado por todos os lados. Muitos acabaram se juntando a manifestação depois que ela foi vista na TV e, dessa forma, lá tinha gente cagando contra a corrução, gente cagando contra a presidenta, gente cagando pela volta da ditadura, gente cagando contra o Sarney e gente cagando contra a Copa do Mundo. 

O Cagaço Porto Alegre acabou quando a polícia resolveu contra-atacar na mesma moeda e atirou diversas bombas de gás lacrimogêneo nos manifestantes, que se dispersaram quando já passava da meia-noite. Alguns baderneiros permaneceram ainda cagados correndo pelas ruas, mas a polícia conseguiu prendê-los com facilidade, pois quase todos paravam para fotografar com o celular a bosta que cagaram para postar nas redes sociais. De qualquer forma, foram mais de cinco horas de cagaço coletivo em Porto Alegre e isso assustou até os mais poderosos políticos. O prefeito, temendo um novo Cagaço, criou um projeto para desmantelar o cartel de empresas de ônibus na cidade e, duas semanas depois, Porto Alegre era a primeira capital do país com transporte 100% gratuito. Um projeto para trocar todos os ônibus em movimento na cidade por ônibus movidos a energia elétrica, que não emitem gases poluentes, está em discussão, com grandes chances de aprovação. E tudo começou por que o povo resolveu sair de casa e ir para as ruas cagar. 

E você, o que está fazendo para mudar o cenário político do seu país? 

Eu to cagando. 

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