hoje, depois de tanto tempo, sonhei com você. era madrugada, me levanto da mesa no escritório para passar café. me viro e, ali, você está. eu me assusto. você não poderia estar ali. eu não sei o que dizer. você não me ajuda. mostro pela janela uma varanda iluminada na casa vizinha. ao olhar a claridade, esperava ter alguma coisa para dizer. mas não consigo. pergunto sobre teus pais e conto um pouco sobre os meus, como se alguma ancestralidade nos socorresse nesse momento. tua boca segue fechada.
quando ouço tua voz, ela se esparrama por dentro de minha pele, atravessa os músculos, os ossos, e ali ecoa. é como se fosse a primeira voz depois da criação do mundo, por sobre as águas, anunciando a luz. noticiando um novo universo, intangível e coberto pelo véu do desejo. de novo ouço tua voz, e uma engrenagem se movimenta, como se no mais antigo de mim, ali, em cada dia, cada noite, a sua voz viesse me chamar. e você vai embora. e mais nada. nada consigo falar enquanto você se afasta.
e já não te vejo. volto a olhar a janela, e agora a luz está apagada, estive em pedaços. talvez ainda esteja. quando tudo se desfez não ficou de nós, e em nós, nem uma luz acesa na varanda.
e já não te vejo. volto a olhar a janela, e agora a luz está apagada, estive em pedaços. talvez ainda esteja. quando tudo se desfez não ficou de nós, e em nós, nem uma luz acesa na varanda.
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