para mim -- pelo menos da forma que eu a compreendo -- uma das passagens mais bonitas da história da filosofia é aquela de são tomás de aquino sobre a beleza. ele distinguiu três características básicas da beleza: integridade, harmonia e esplendor.
a integridade quer dizer que é belo algo quando nada lhe falta. mas isso não quer dizer que o ente precise estar completo em si mesmo. fala mais sobre a relação de cada existente com a totalidade do mundo. a beleza não deve afastar do mundo, pois, ao contrário, deve transformá-lo. um ser belo ilumina o mundo que o rodeia. uma árvore no meio de uma cidade cinza, por exemplo, transfigura o cenário geralmente feio que a cerca, podendo estar até sem algumas folhas e galhos. sua beleza vem justamente dessa abertura à totalidade do mundo que lhe rodeia e de sua capacidade de lhe dar uma nova forma. é uma beleza que se manifesta "fora de si", a beleza de algo cobre e integra o mundo, para lhe dar uma forma e uma vida nova.
a harmonia se refere a ordem das partes dentro de um todo. porém, sem que o princípio dessa ordem seja evidente. a harmonia guia o olhar fora do marco de sua presença, entrega ao imprevisto. a harmonia convida a buscar um sentido mais profundo. dificilmente a beleza aparece a um olhar distraído. quantas vezes não encontramos no rosto de alguém um detalhe, que por si só não é bonito, mas se torna bonito ao fazer parte daquele rosto específico?
o esplendor implica que a beleza sempre se manisfesta no ocultamento de sua origem. o esplendor expressa sua retirada, sua liberdade, seu ocultamento. a transfiguração misteriosa de algo que contemplamos, que nos fascina, nos atrai, mas nos escapa. não podemos encontrar sempre novos detalhes num rosto que julgamos bonito? a beleza revela o que não se esgota numa presença visível: o invisível que não se faz evidente. nosso mundo tem uma profundidade que se revela aos pouquinhos e que pode nos maravilhar.
a gente olha o mundo todo dia, mas quase sempre só vê o que está acostumado a ver, vê o que pensa já saber. mas a cada manhã, o mundo pode ser outro. isso é muito claro para quem mora diante de uma árvore, observado-a cada dia. são muitos lugares num lugar só. basta aprender a ver.
para vocês verem que metafísica pode tornar o mundo um lugar menos sem graça.
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