sábado, 22 de junho de 2019

cinco anos

era uma noite na cb. uma conversa num banco da olaria. era uma vida tão doída, tão sozinhas, as nossas. um beijo não dado numa noite na cb. as pessoas e os carros em volta. os muros, os bares. a pele, os cabelos, o medo. a culpa. 

cinco anos não é muito quando se tem quase sessenta ou setenta. cinco anos é uma eternidade quando se ainda é jovem. foram cinco anos de eternidade, toda a eternidade dentro de mim. no desejo que não se concretiza, no abraço que não se permite ir até o fim. o olho no olho. o espelho. a espera. é sempre uma espera. ela vinha, ela ia, ou eu ia, eu voltava. a gente sempre volta. cinco anos. nos últimos cinco anos cada texto meu tem uma pequena dedicatória a essa garota. 

cada texto teu tem uma pequena dedicatória a essa garota. 

tudo preso numa lembrança nebulosa de dor. numa lembrança nebulosa de desejo e cinza. tudo tudo tudo adormecido. e em cinco anos passou uma eternidade. 

na olaria eu passei os braços por sobre os seus ombros. num abraço antigo. ali eu era o mesmo cara de cinco anos atrás. e ela a mesma garota. e só então eu soube que ela tinha muito, muito mais medo da vida do que eu. 

se eu pudesse, diria: não chore. 
e depois: olhe para a multidão. também somos pés sobre a mesma terra. 
pense no que somos. somos apenas canos de fazer bosta. 
quando o gato mia, e seus olhos amarelos nos olham de perto, tudo se dilui. 
e eu diria: não chore, não chore agora.
nem chore depois. 
e eu também diria: estarei sempre aqui. 
como nos últimos cinco anos. 

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