era uma noite na cb. uma conversa num banco da olaria. era uma vida tão doída, tão sozinhas, as nossas. um beijo não dado numa noite na cb. as pessoas e os carros em volta. os muros, os bares. a pele, os cabelos, o medo. a culpa.
cinco anos não é muito quando se tem quase sessenta ou setenta. cinco anos é uma eternidade quando se ainda é jovem. foram cinco anos de eternidade, toda a eternidade dentro de mim. no desejo que não se concretiza, no abraço que não se permite ir até o fim. o olho no olho. o espelho. a espera. é sempre uma espera. ela vinha, ela ia, ou eu ia, eu voltava. a gente sempre volta. cinco anos. nos últimos cinco anos cada texto meu tem uma pequena dedicatória a essa garota.
cada texto teu tem uma pequena dedicatória a essa garota.
tudo preso numa lembrança nebulosa de dor. numa lembrança nebulosa de desejo e cinza. tudo tudo tudo adormecido. e em cinco anos passou uma eternidade.
na olaria eu passei os braços por sobre os seus ombros. num abraço antigo. ali eu era o mesmo cara de cinco anos atrás. e ela a mesma garota. e só então eu soube que ela tinha muito, muito mais medo da vida do que eu.
se eu pudesse, diria: não chore.
e depois: olhe para a multidão. também somos pés sobre a mesma terra.
pense no que somos. somos apenas canos de fazer bosta.
quando o gato mia, e seus olhos amarelos nos olham de perto, tudo se dilui.
e eu diria: não chore, não chore agora.
nem chore depois.
e eu também diria: estarei sempre aqui.
como nos últimos cinco anos.
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