Uma das razões que torna difícil esquecer uma pessoa é o fato de que muitas coisas do mundo exterior que havíamos partilhado com ela, aos quais ela ainda está ligada, insistem em sobreviver. Um café pode fazer lembrar da forma delicada que ela segura a xícara e leva até a boca para beber. Uma ida ao supermercado pode fazer lembrar das bobagens que os dois gostavam de comer juntos. Caminhando pela rua cheia de bares no fim da noite, você pode lembrar ter passado pela mesma rua e pelos mesmos bares, mas com ela ao seu lado. Beber em um bar e olhar para um garçom pode evocar a forma tímida e linda com que ela chama o garçom para pedir alguma coisa. O livro emprestado na estante é um lembrete do gosto em comum por certo tipo de literatura meio alternativo. Certos dias da semana, em que costumavam fazer coisas juntos, fará sempre uma relação agonizante entre passado e presente. Algumas séries assistidas juntos fazem lembrar até a forma que ela ri ou coloca a cabeça no encosto do sofá quando está cansada.
É o mundo físico que se recusa a deixar esquecer. O mundo exterior não obedece a nossa vontade. Os bares e as ruas, que haviam fornecido o pano de fundo para o começo do sentimento, neles nós projetamos luzes que derivam da pessoa que queremos esquecer. As mesmas ruas, os mesmos lugares, o mesmo céu azul, as mesmas casas, os mesmos carros que passam pela mesma rua, as mesmas lojas vendem as mesmas roupas para praticamente as mesmas pessoas. Toda essa recusa de mudança é um lembrete de que o mundo é qualquer coisa que não se importa com o fato de você estar apaixonado ou não, de se você quer esquecer ou não e de se você está feliz ou não.
Não podemos mesmo esperar que o mundo exterior, com esses grandes blocos de pedras que formas as ruas da cidade, se importe com o nosso desejo de esquecer e superar. A solução é apenas uma: todo esse cenário que foi forjado em torno de um "nós" tem que voltar a envolver apenas um "eu", mesmo que isso implique uma mudança completa do eu envolvido.
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