quinta-feira, 20 de outubro de 2016

o fim do mundo

todo fim de namoro é um tipo de fim do mundo. é como se o sol começasse a morrer. o final de um namoro faz o tempo avançar quatro ou cinco bilhões de anos; o sol começa a apagar. um gigante entediado aperta o interruptor do universo e desliga a nossa luz para que possamos dormir. Assim é o fim do mundo. Assim é um fim de namoro. Um gigante vai levantar o planeta inteiro e embalar o nosso sono na palma da mão. vai desejar boa noite, dar um beijo e caminhar por cima das estrelas até nenhuma mais brilhar. Todo final de namoro é dia de o mundo acabar. Cada briga, cada desentendimento, cada discussão, é o sol chegando mais perto para se despedir. Talvez o mundo acabe em uma sexta-feira, logo tão próximo do sábado que a gente tinha combinado de comemorar teu aniversário. Fazer quê? Imprevistos acontecem. Mas não dá pra remarcar, remarcar nosso final de mundo? Talvez o mundo possa acabar mais tarde. Sábado o mundo ainda pode estar aí para a gente. a gente sai para caminhar pela cb e olha para as estrelas que não foram ainda esmagadas. Tá difícil conseguir dormir e trabalhar essa semana sabendo que o meu sol e minha estrelas estão sendo levadas embora. vou subir no telhado e estender um cobertor para ficar de olho nos movimentos das estrelas. E caso você mude de ideias e não tenha outros planos, vou guardar um lugar para você ver aqui do meu lado que isso tudo não é o fim do mundo, do nosso mundo.
o querer dela não tem objeto.
o que ela quer mesmo é sempre apenas querer
então não tem jeito de ela ficar satisfeita 
porque quando acontece aquilo que ela diz que quer
não dá mais pra querer o que ela queria
dai começa toda uma teorização para justificar 
por que aquilo que ela dizia que queria 
não era mais bom e verdadeiro. 
mas era sim e ainda é 
é bom e verdadeiro, eu sei que é
ela que não percebe.

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

A menina mais bonia que eu já vi.

Quando a menina mais bonita que eu já vi fica triste
eu tenho vontade de perguntar para ela:
a menina mais bonita que eu já vi,
tem os olhos, a boca e o sorriso mais bonitos que eu já vi;
como ela pode ficar triste,
se ela é a menina mais bonita que eu já vi?

Feliz aniversário, menina mais bonita que eu já vi.

terça-feira, 27 de setembro de 2016

eu não vou pensar em você hoje

eu não vou pensar em você hoje. eu não vou pensar nos teus olhos fechados e no jeito agitado que você dorme. depois eu não vou pensar nos teus olhos abertos e no jeito preguiçoso que você acorda. eu não vou imaginar como você fica linda em frente ao espelho ou andando de um lado para outro do quarto escolhendo a roupa para sair. não vou pensar no cheiro dos teus cabelos e muito menos nas pintinhas espalhadas pelo teu corpo. não vou pensar no último filme que a gente viu juntos e nem na primeira vez que fomos ao cinema. não vou pensar no jeito que você ri, inclinando a cabeça um pouco para o alto e fechando os olhinhos. o teu riso pode pertencer a qualquer outro enquanto eu não estiver pensando em você. 

não vou pensar na marquinha no canto dos teus lábios e nem no jeito atrapalhado que você come algo que gosta muito. não vou ficar me perguntando se teu dia foi bom e nem me preocupar se você tem se alimentado direito. nem mesmo vou pensar no gosto da tua saliva e nas últimas palavras que ouvi sair da tua boca, muito menos na primeiras. não vou pensar em todas as palavras que gostaria de ter dito para você. não vou pensar no som da tua voz. tua voz pode pertencer a qualquer outro enquanto eu não estiver pensando em você. 

e, por fim, não vou pensar no teu calor pesando sobre mim. não vou pensar nas tuas roupas amassadas e quentes caindo no chão do teu quarto. não vou pensar em encostar em você e em tocar em cada pedaço do teu corpo. eu não vou pensar em você. hoje. 

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Um país chamado Sabrina

Eu gosto de ligar as suas pintas, como uma brincadeira impressa na contracapa de um jornal de domingo ou como um jogo complicado que só eu consigo entender. Não tem caixa para ler o verso e entender as instruções. Não consigo entender as regras da tua pele; as pintas são muitas e eu as ligo formando figuras ou sorrisos. A tua pele inteira me sorri com um rabisco de unha e eu participo de você, do teu corpo, pela mania de ligar -- as pintas; os pontos. Todos eles, depois de conectados por mim, formam constelações de pintinhas, de formas geométricas e de desenhos que só eu conheço e compreendo. Pretendo, um dia, nomear todas as tuas constelações de pintinhas, dar nomes ao todos os limites de teu corpo pontilhado. 

A ligação das pintas do teu corpo, antes despretensiosa, aquilo que era para ser uma brincadeira, transforma-se num pequeno mundo, numa colonização, num pequeno país chamado Sabrina. Eu te divido em estados e cidades, e vou morar na cicatriz perto dos teus lábios e nos sorrisos mais lindos que escapam por ali. Teu corpo, enquanto for o meu país, e tuas pintas, enquanto forem as minhas estrelas, serão considerados um mapa -- como aqueles pendurados nas paredes das estações rodoviárias, que servem para os turistas perdidos encontrarem seu destino. 

O meu destino nunca foi fácil de encontrar. Eu sempre me senti um pouco estrangeiro, um pouco forasteiro. Muitas vezes fiquei perdido no meio de um emaranhado de linhas, traços e pontos que eu liguei e desliguei em teu corpo e fiz um sorriso para mim na tua pele, mesmo sem nunca ter lido o manual, mesmo sem saber as regras do jogo, mesmo que algumas peças tivesse faltando e mesmo que as cartas em mão não fossem as melhores. E, mais uma vez, estou aqui, perdido. Vamos, venha, tire a roupa, preciso consultar meu mapa. É só no teu corpo que eu consigo encontrar a minha localização. 

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Por que você?

Porque às vezes você é esquiva, silenciosa, com feriadas antigas, desvia o olhar e olha para o nada. Porque você é o tipo de garota que se tem que gostar com cuidado e com atenção, para que você não fique fria e dura como uma estátua de gesso, para que você não se feche em si mesma como um caracol triste. Porque você me fez ver filmes fodas e me ensinou a entender coisas que meus olhos veem mas antes eu não ligava. Porque você é doce do seu jeito. A primeira coisa que me atraiu foi o jeito que você me olhou. Não era um olhar qualquer, era cheio de contrastes e de pequenos olhares uns dentro dos outros como as ondas de um mar calmo. Porque você tremia quando eu te tocava, e isso entregava tudo. Porque eu não quero ir para lugar nenhum, apenas ficar em seus olhos. Porque eu sinto que quero dar o melhor de mim para você, mesmo não sabendo o que é o melhor de mim, mesmo sem saber se há algo de melhor em mim. 

sábado, 9 de janeiro de 2016

Por uma antropologia menor

Em minha tese escrevi dois capítulos que possuem um sentido mais antropológico. O que eu disse lá foi muito pouco e muito pontual. Não foi nada de novo. Outras pessoas já disseram, e bem melhor. Ainda bem, porque isso me ajuda a entender o quão pequeno sou como ser humano, e como, na busca das respostas de minhas questões principais, apesar de urgentes, me aproprio com humildade de coisas alheias. Não quero enrolar muito nessa conversa e vou dizer logo o que quero dizer, mostrando meu enfrentamento e minhas conclusões mais explicitas. Meus dois capítulos antropológicos podem ser resumidos nestas palavras: precisamos perder a vergonha e apenas ser. Precisamos fazer isso já. E para somente ser precisamos aprender a lidar com nossa falta de transparência no agora. É fazer surgir, assim, um self despido de tudo, sobretudo de metafísica e arrogância, de grandiosidade e de medo. É fazer surgir um quase nada, algo que é muito pouco. Pode ser que sobre apenas uma sede a ser saciada, uma necessidade de tomar um banho, uma vontade de ficar um pouco quieto e sozinho, Uma coisa é certa: o que vai resultar dessa antropologia é sempre algo menor, muito menor.