sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Um país chamado Sabrina

Eu gosto de ligar as suas pintas, como uma brincadeira impressa na contracapa de um jornal de domingo ou como um jogo complicado que só eu consigo entender. Não tem caixa para ler o verso e entender as instruções. Não consigo entender as regras da tua pele; as pintas são muitas e eu as ligo formando figuras ou sorrisos. A tua pele inteira me sorri com um rabisco de unha e eu participo de você, do teu corpo, pela mania de ligar -- as pintas; os pontos. Todos eles, depois de conectados por mim, formam constelações de pintinhas, de formas geométricas e de desenhos que só eu conheço e compreendo. Pretendo, um dia, nomear todas as tuas constelações de pintinhas, dar nomes ao todos os limites de teu corpo pontilhado. 

A ligação das pintas do teu corpo, antes despretensiosa, aquilo que era para ser uma brincadeira, transforma-se num pequeno mundo, numa colonização, num pequeno país chamado Sabrina. Eu te divido em estados e cidades, e vou morar na cicatriz perto dos teus lábios e nos sorrisos mais lindos que escapam por ali. Teu corpo, enquanto for o meu país, e tuas pintas, enquanto forem as minhas estrelas, serão considerados um mapa -- como aqueles pendurados nas paredes das estações rodoviárias, que servem para os turistas perdidos encontrarem seu destino. 

O meu destino nunca foi fácil de encontrar. Eu sempre me senti um pouco estrangeiro, um pouco forasteiro. Muitas vezes fiquei perdido no meio de um emaranhado de linhas, traços e pontos que eu liguei e desliguei em teu corpo e fiz um sorriso para mim na tua pele, mesmo sem nunca ter lido o manual, mesmo sem saber as regras do jogo, mesmo que algumas peças tivesse faltando e mesmo que as cartas em mão não fossem as melhores. E, mais uma vez, estou aqui, perdido. Vamos, venha, tire a roupa, preciso consultar meu mapa. É só no teu corpo que eu consigo encontrar a minha localização. 

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