sexta-feira, 26 de julho de 2013

saka saka saka saka saka saka sakamoto

saca muito o sakamoto 
me convenceu a dar uma boneca barbie para um garoto 
não saca pouco o sakamoto 
pena que o guri ficou puto e me deu um soco no escroto 

saka saka saka saka saka saka sakamoto 

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Não é pelos vinte centavos, é por que eu te amo

Não, não é por que eu fiquei em último lugar na seleção de doutorado, nem por que acabei ficando sem bolsa. Não é por que derramei café na roupa bem agora que estou saindo, nem por que ontem me atrasei para o cinema e perdi o comecinho do filme que eu queria muito ver. Não é por que eu não acho o papel no qual fiz aquela anotação importante sobre Ser e Tempo e nem por que não lembro o número do telefone que preciso discar. Não tem nada a ver com o fato de eu não saber mais sobre o que estou pesquisando e eu ter quase certeza que não conseguirei terminar o doutorado.  Tampouco é por que está muito frio e eu estou com saudade de algumas pessoas que estão longe.

Não é pelos vinte centavos, é por que eu te amo. Não tenho dúvidas que gosto de você e que daríamos certo juntos. Com você meu mundo ficaria finalmente completo e eu sou capaz de ver nossos filhos correndo e brincado e depois crescendo e depois nos dando netos. 

O problema é que eu te amo. Perto disso a tarifa do ônibus não significa nada. A fome que mata e devora tantas e tantas pessoas no mundo não tem importância nenhuma. A morte, a nossa mãe invisível, já não me preocupa. As derrotas do Grêmio e o fato de ele estar há mais de dez anos sem ganhar um título importante nem me incomoda mais. Os livros e as anotações em cima da mesa perderam completamente o seu sentido. As horas, os dias, os acontecimentos passam sem deixar o menor vestígio. As ofensas e as mentiras entram por um ouvido e saem por outro. Minhas notas caíram bastante semestre passado, mas para esse tipo de aborrecimento eu já nem ligo. Não é por que eu quis, mas é por que eu te amo. 

O problema é que eu te amo! Não tenho dúvidas de que eu queria estar mais perto. Juntos viveríamos mais de mil anos porque o nosso mundo estaria completo e perfeito feito um rinoceronte. Eu vejo nossos filhos brincando com seus filhos, que nos dariam bisnetos que brincariam com seus próprios filhos.  

Não é por que sei que você não virá que eu não escute o interfone tocando. Não é que eu esteja procurando no vazio do nada um pouco de sentido para andar comigo. O problema é que te amo. Não tenho dúvidas e não quero mais guardar segredo. Juntos morreríamos e o mundo sem a gente seria um deserto de espaço e de tempo, como o mundo desaparece quando morre o Dasein. Eu vejo os filhos dos filhos dos filhos de nossos filhos brincando. 

O problema é que eu te amo. Não é por que você não está aqui que eu não possa dizer que te amo. 

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Emily Thorne da Cidade Baixa (entre Puntel e Plasil)

Quando você passou por mim, atravessou o meu corpo, como se eu fosse um fantasma, ou você uma miragem. Com um vestido vermelho, cabelos loiros e cacheados, tão bonita que parecia fazer parte da abertura de algum seriado americano. Enquanto isso, na Lima e Silva, as pessoas estavam se divertindo loucamente e, em algum canto da cidade, um leproso, na cama, atirava o dedinho na porta para chamar a enfermeira que estáva ao celular no corredor do hospital. 

Eu duvido da existência de indivíduos que vivem a vida intensamente e se divertem loucamente como Benjamin duvidava da existência do progresso na História com H maiúsculo. Como se mede a vida para se dizer que ela é vivida intensamente?  Existe um bafômetro para isto? Ressaca e fotos. Estou perdendo o foco, parece.

Eu não sei o seu nome, então vou te chamar de Emily. Emily você é tão linda, tão cheia de vida e de cabelos. Aceita comer miojo de galinha caipira comigo no almoço de domingo, Emily? Quando você se afastava, o formato do seu rosto se distorcia e você ia ficando cada vez mais bonita e bonita. Você é, talvez, a menina mais bonita que eu já vi na minha vida. 

Desculpe se estou enrolando, é que estou preocupado. As pedras que eu atiro pela janela não caem na cabeça de ninguém. Já penso em usar objetos mais pesados: tijolos, panelas, Estrutura e Ser. Algumas pessoas merecem Puntel na cabeça. Se eu conseguisse acertar Tugendhat já ficaria feliz. Mesmo Heidegger aqui do quarto andar já causaria algum traumatismo. 

Emily, sabe como eu ando me sentindo desde que te vi? Peixinho preso num aquário. 

terça-feira, 9 de julho de 2013

Apaixonado por aquela pessoa ali

Gilson é do tipo que se apaixona rápido. Assim que apareceu uma pessoa um pouquinho mais simpática na sua vidinha podre, apaixonou-se, como tantas outras vezes se apaixonara por pessoas que foram um pouquinho mais simpáticas com ele. Por não estar acostumado a isso, por não estar acostumado com as pessoas sendo legais com ele, apaixonava-se por cada uma que o convidasse para passar algumas horas em sua companhia num bar no sábado à noite ou passear num domingo de sol. Encontravam-se, conversam, bebiam, e Gilson acreditava que aquele momento era único, pois conversava com uma pessoa que era legal  com ele e se interessava por sua vidinha podre. Mas a pessoa se interessava pela vidinha podre de Gilson como alguém se interessa por uma revista velha na sala de espera de um consultório médico. Gilson não sabia disso. Então ele se apaixonava. Contava detalhes insignificantes de sua vidinha podre entre um chopp e outro, falava de seu trabalho ridículo entre um drinque e outro. Quando bebia demais, dava quase para ler em sua testa que estava apaixonado. Ele mesmo dizia, para todo mundo e para a pessoa, que estava apaixonado. Os outros, que nunca estavam realmente interessados nele, não podiam fazer outra coisa do que ignorar. Ouviam, surpresos, aquela revelação e depois tratavam logo de colocar tudo em ordem. Explicavam que entre eles não poderia haver outra coisa que não amizade. Então acontecia com Gilson algo muito estranho, para não dizer absurdo. Uma grande raiva o dominava, e ele, de uma hora para a outra, desprezava as mesmas pessoas que antes gostava. Dizia que era melhor dar um tempo nas cervejas e nos encontros. Na verdade, não queria nem mais vê-las na frente. Assim do nadinha, a pessoa por quem estava apaixonado lhe era repulsiva. Não conseguia nem pensar nela sem sentir algum tipo de nojo. Dizia que precisava se afastar, que queria um tempo, mas nunca voltava. A amizade acabava ali. E hoje Gilson continua procurando uma pessoa que seja legal com ele e que se interesse por sua vidinha podre.   

terça-feira, 2 de julho de 2013

Frases feitas

Vou jogar uma garrafa com uma mensagem no mar da internet. Talvez alguém encontre. Talvez alguém até leia. Talvez alguém até goste. O hábito pode não fazer o monge, mas o tédio, sem dúvida, faz. E também me faz escrever assim no piloto automático, como o Barcelona tocando a bola ou o Schneider dando aula sobre Heidegger: firulas e pérolas e recortes sem aura. Qualquer coisa que hoje me leve do nada para lugar nenhum será bem vinda. Só não quero frases feitas. Há tantas maneira de não dizer quase nada. Há tantas maneiras de não fazer sentido. Eu escolhi a mais simples de todas. Quando se está apaixonado, pelo menos, tudo parece fazer sentido. Mas a paixão é mal educada. Chega sem pedir licença e vai embora quando a gente menos espera, sem nem ao menos se desculpar ou dizer obrigado. Num mundo onde tudo é calculado, a paixão pelo menos é espontânea, porém é caótica e imprevisível. Hoje as coisas duram menos do que a relevância de Sartre na filosofia e os posts do facebook não têm mais graça. Não me venham com frases feitas, hoje não. Já bastam as minhas. Não se trata de fazer drama e sofrer por antecipação. É que só a paixão justifica o ridículo de acordar todos os dias e fazer as mesmas coisas estúpidas e rir das mesmas piadas sem graça. Só a paixão justifica viver assim nesse mundo sem pontos e vírgulas, deselegante, sem metafísica, onde já não se pode distinguir com tanta clareza entre o ser e o não-ser. Abro um livro, qualquer um, em qualquer página. Todos parecem dizer o que eu já sei. Frases feitas? Hoje não, obrigado. Hoje eu não quero surpresas. Só queria algo familiar, como refrigerante com limão. Qualquer coisa parecida com barulho de chuva, colo de mãe ou futebol com os amigos. Só queria, hoje, sentir o mundo um pouquinho mais doce.