segunda-feira, 30 de março de 2020

uma das frustrações que tenho como professor de filosofia é não conseguir mostrar para meus alunos como a filosofia é realmente engraçada. grandes temas filosóficos e boas piadas têm muita coisa em comum. por isso que tanto textos filosóficos quanto piadas evocam um efeito persuasivo, que parece repentino, como se tivesse sido aberta uma janela que estava há muito tempo fechada. o que um texto filosofia faz, assim como uma piada bem contada, é aumentar uma pressão até que seja impossível suportar. é por essa razão que muita gente diz que nunca saímos o mesmo de um texto filosófico.

a gente sabe também que nada estraga mais uma piada do que ter que explicá-la. sentimos como se a graça tivesse sido traída, profanada. é um pouco parecida a situação de um professor que precisa moer e decodificar um texto de kant ou heidegger diante de uma classe de alunos. é simplesmente chato. 

eu acho que uma das razões para que os jovens não consigam entender a graça da filosofia é que hoje a gente se acostumou a ver o humor como entretenimento confortável ou um tipo de fuga. a principal função do humor que consumimos hoje é escapar: gostamos de piadas com fantasia, adrenalina, violência, sexo -- qualquer coisa para escaparmos de nós mesmos, qualquer coisa que dê alívio, para fingir por alguns momentos que não estamos perdidos. não é à toa que boa parte dos jovens e adultos se dediquem tão seriamente hoje a foder, beber até cair e buscar todo tipo de confusão e folia. estamos todos apavorados, e lidamos com esse terror de uma forma genuinamente contemporânea. é compreensível, então, que a maioria de nós só considere a história da filosofia monótona e sem graça.  

assim, é muito difícil fazer um aluno perceber o humor que está implicado na filosofia. isso porque eles foram ensinamos a entender o humor como algo que alivia -- assim como aprenderam que conhecimento é algo que simplesmente se conquista. não é estranho que eles não sejam capaz de entender a piada fundamental que atravessa toda a história da filosofia: a de que a busca interminável e impossível pela sabedoria é, justamente, a nossa sabedoria. e isso é engraçado pra cacete. mas, acreditem, é quase impossível colocar isso em palavras quando tu está diante do quadro-negro. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário