Eu existo, mas quase não existo. Você existe, e existe demais. Existimos em tempos iguais e em tempos diferentes. Você desde sempre existiu mais do que eu, você existe todas as horas, todos os minutos, todos os segundos; eu existo apenas uma ou duas vezes por semana e, em certas semanas, até me esqueço de existir. Você não esquece de existir nem naqueles momentos em que ninguém está prestando atenção em você, faz questão de existir independente do observador ou do discurso. Nunca encontrei um momento em que você não tenha existido, e existido por completo.
Há quanto tempo você existe? Eu já perdi a conta.
Se você tivesse começado a existir poucos anos atrás, eu teria escrito o seu nome vinte e três vezes numa folha de papel em branco e prendido com imã na porta da geladeira. Neste tempo eu não teria que me preocupar em refletir sobre sua ausência ou sua existência. Ficaria satisfeito em saber seu endereço, seu apelido e o nome de sua melhor amiga, ficaria feliz em apenas existir paralelamente.
Mesmo sendo mais jovem, você existe há mais tempo que eu. Porém, não existiu na hora certa, você teimou em existir de um jeito errado, resolveu existir por cima de mim, cobriu minha existência com a tua e eu não consegui existir neste espaço apertado que sobrou. Eu não sou capaz de deixar de existir mais do que já não existo para abrir espaço para você existir ainda mais. Nosso amor foi uma contradição ontológica.
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