Quem é de Palmeirinha provavelmente conhece ou já ouviu alguma história envolvendo o maratonista Clodoaldo. Matemático e corredor, tem o dom da palavra, é um notável contador de causos -- que muitos invejosos chamam maldosamente de inverdades. Clodoaldo exagera, carrega nas interpretações, aumenta aqui ou ali, mas, creio eu, sempre baseia suas narrativas em alguma situação cotidiana que de fato aconteceu.
Sentado confortavelmente no Bar do Maninho, uma instituição boêmia sagrada da região, Clodoaldo repentinamente começa a descrever situações fantásticas. Ali ele se popularizou por uma proeza sobre-humana: da porta do boteco, jura que consegue enxergar sua mulher assistindo televisão na sala da sua casa, que fica num bairro bem mais distante, mais de 1 quilometro de distância da entrada do bar. É assim que Clodoaldo sempre saberia a hora exata de sair do bar e voltar para casa sem preocupar sua amada esposa.
A história é realmente essa: o sujeito jura que, ao fixar bem o olhar, sua visão atravessa paredes, muros, casas, barrancos e entra em sua casa pela porta da frente e dá uma manjada na patroa que, despreocupada, assiste a novela. "Dá tempo de tomar a saideira", dizia, sempre sorrindo.
Isso é apenas uma das histórias fantásticas sobre Clodoaldo que circulam pela Palmeirinha. O cara é um baú de causos, como da vez que enganou a mulher e tirou o cheiro de perfume barato de cabarezinho com bergamota, do seu método de beber água de cano estourado para não desperdiçar, do seu filho que com problemas graves de visão usava um tapa olho para "forçar o olho bom" e, talvez a mais clássica, de quando foi pagar uma promessa para Nossa Senhora e voltou com um tatu pronto para ser cozinhado.
Durantes anos, centenas e centenas de pessoas já contribuíram para as histórias dessa figura. São causos que já fazem parte do folclore de Palmeirinha. As histórias vão passando de pai para filho, muitas vezes sendo alteradas. Outras originalmente não envolviam Clodoaldo, mas a ele foram atribuídas. Tarde demais.
Hoje gostaria de lembrar de um causo da época em que Clodoaldo era maratonista do exército brasileiro, lá pela década de 70, e viajou com outros atletas-soldados para uma corrida em São Paulo. Era a primeira vez que nosso corredor disputava uma corrida na Terra da Garoa, onde depois iria fixar residência.
Utilizando sua liderança e sua capacidade de argumentação, Clodoaldo convenceu os chefes de sua equipe que o melhor era hospedar todo o time em um hotel 5 estrelas no coração da cidade. Agora passo a palavra para o próprio maratonista:
Utilizando sua liderança e sua capacidade de argumentação, Clodoaldo convenceu os chefes de sua equipe que o melhor era hospedar todo o time em um hotel 5 estrelas no coração da cidade. Agora passo a palavra para o próprio maratonista:
"Meu amigo, cheguei lá e o hotel tinha mais de 30 andares. Rapaz, nem sabia o que fazer com tanto andar. Então chegamos no quarto do hotel e, meu amigo, era gigante. Aquilo era coisa boa. E tava ainda cheio de bebida naquela geladeirinha. Cheguei com sede né, e já me atraquei na bebida. Foi pá puf e deu. Depois que acabou eu mandei vir mais e depois mais ainda. Pessoal de São Paulo sabe tratar bem as visitas, eu pensava.
Lá pelas tantas já tava meio baleado e fui dormir. Aquela cama maravilhosa me esperando, No que eu pisei no tapete, Deus do céu, que coisa mais macia, o pé afundava naquela coisa fofinha. Aquilo era coisa boa. Já tava mais pra lá do que pra cá e como o cansaço da viagem era grande, acabei não tendo forças para chegar até a cama e dormi no tapete mesmo, que era tão fundo e macio.
No outro dia, depois da corrida, fiquei sabendo que a bebida não era de graça e que muitas dela eram importadas. Tudo seria cobrado da minha equipe. A conta ficou caríssima pra gente e a solução foi vender todo o armamento de nosso pelotão para dar conta das despesas. Essa tatuagem do Super Homem que eu tenho aqui no peito fiz depois disso, Era pra lembrar que como a gente não tinha mais arma, caso desse guerra eu ia ter que enfrentar as balas no peito mesmo, tipo o Super Homem, manja?
Dai pra acabar, depois que pagamos, perguntei para a moça como que fazia para chegar até o rodoviária e ela me disse que era fácil, só pegar o ônibus 4767. Meu amigo, tu acredita que já eram seis da tarde do outro dia e eu tava no ponto de ônibus ainda, e só tinha contado 4007 ônibus que tinham passado por ali? Desiste de esperar pelo 4767 e chamei um táxi mesmo"
Pode ser que o maratonista Clodoaldo não seja o herói que a Palmeirinha merece, mas com certeza ele é o que ela precisa.
Vuelvo porque el mundo es un esferoide.
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