-- Você vai mesmo comer esse pastel? -- perguntou Bruno para a menina sentada logo ao seu lado na pastelaria e que estava prestes a dar a primeira mordida num pastel.
Perguntou mais para puxar assunto com a menina bonita, mas, caso uma troca fosse aceita, tinha uma goiaba na sua bandeja para oferecer em qualquer negócio. Bruno queria mesmo era comer um pastel de camarão, mas ficou nervoso na hora de pedir e pediu uma goiaba. Apesar do amplo salão da pastelaria estar muito silencioso e quase vazio, e apesar de Bruno ter feito a pergunta em alta voz e estando ao lado da pessoa, a dona do pastel não ouviu direito e pediu para ele repetir.
-- Eu perguntei se você vai comer esse pastel -- disse Bruno agora maravilhado com o som da própria voz falando "pastel".
Um homem que estava sentado a quatro mesas de distância de Bruno e da garota começou a rir até se engasgar com seu pastel e tossir.
-- Nossa, você gosta mesmo de goiaba né -- disse a menina para Bruno, com muita seriedade.
-- Oi? Eu não disse "goiaba" e eu disse"pastel", pastel -- voltou a gritar Bruno, fazendo novamente o homem, apesar das quatro mesas de distância, rir, engasgar e tossir.
Bruno notou, ficou confuso e, sem saber que tipo de registro de voz usar, passou a sussurrar para a garota.
-- Eu odeio goiaba, não suporto goiaba, nem sei por que comprei uma goiaba -- disse, amistoso e sorrindo, fazendo rolar, com a mão, a goiaba na bandeja.
Nesse momento Bruno e a garota olharam-se nos olhos. Depois ele olhou para a bandeja dela, com o pastel intacto, e ela olhou para a bandeja dele, que servia de terreno para as roladas da goiaba.
-- Pastel de goiaba. Eu comia muito quando era criança. É muito bom, não sei se tem aqui, mas você deveria experimentar -- disse a garota que depois só soltou um risinho pelo nariz.
Para evitar um silêncio constrangedor, Bruno pensou em novamente fazer a pegunta sobre o pastel da moça, mas quando estava prestes a dizer a primeira palava teve que parar, pois só agora, ao prestar muita atenção na bandeja da menina, percebera que não se tratava de um pastel mas sim de outra goiaba.
-- Moço, respondendo a sua pergunta, eu não vou comer minha goiaba -- respondeu ela brincando e girando a goiaba.
Ele deu de ombros e continuou a conversa:
-- É fascinante quanta coisa de comer dá para fazer com a goiaba.Tem doce de goiaba, tem o pastel de goiaba e a goiaba goiaba que é só a goiaba, como essa sua aí.
-- Siiim, pastel de goiaba é super minha infância, adoro.
-- Como se chama?
-- Pastel de Goiaba mesmo, acho.
-- Não o pastel de goiaba, você, Como se chama?
-- Ah sim, Milena.
A garota sorriu, perdida, tomada por uma profunda e completa falta de assunto. Bruno só conseguiu pensar em uma única pergunta para continuar a conversa:
-- E por que você não quer comer a goiaba?
-- Distração. Que cabeça a minha. Só quando fui dar a primeira mordida vi que era uma goiaba. Queria ter pedido um pastel de camarão.
-- Não seja por isso, Milena, pode ficar com o meu, trocamos -- disse Bruno passando a sua bandeja para a garota e pegando a dela.
-- Sério? Muito obrigada! Deve ser a primeira vez na história que isso acontece, que demais.
Bruno concordou, sorrindo e enfiando a goiaba inteira dentro da boca.