Léo Sakamotinho era um jornalista ativista. Ele tinha muito orgulho do que fazia. Posso não mudar o mundo, mas estou fazendo a minha parte, ele dizia com um sorrisão forçado na cara. Em uma de suas reportagens ativistas, Sakamotinho se vestiu de índio para testar o preconceitos dos seus alunos da PUC SP, onde também era professor. Por mais de um mês ele deu aula no curso de jornalismo da universidade vestindo um short Adidas e usando um cocar ma cabeça para desafiar o preconceito da classe média paulistana contra o índio. Uso cocar como ato político, dizia o jornalista Sakamotinho.
Em sua primeira aula vestido de índio, Sakamotinho contou que um dos alunos o agrediu fisicamente com o último livro do Olavo de Carvalho e outro com um salame que trazia no bolso do casaco. Porém com o tempo ele passou a ser aceito pela turma, que fazia um grande batuque nas classes quando ele entrava na sala e às vezes rolava até uma dança da chuva antes do intervalo.
No entanto essa não é a regra, diz o jornalista em seu blog. Na maior parte das vezes, a universidade, lugar em que supostamente deveria haver maior liberdade e tolerância, ainda é cheia de preconceitos e comportamentos reacionários. Só nos últimos quatro anos, segundos dados levantados pelo próprio Sakamotinho, houve mais de dois trilhões de reclamações envolvendo a roupa ou o jeito de falar de algum estudante. Esse foi o caso de Gerson Lúcio, aluno do sexto semestre de Filosofia da mesma universidade.
Gerson gosta de se vestir como um mendigo e ir assim na universidade para impor sua identidade contra o capitalismo higienista burguês. Na última semana, por exemplo, Gerson frequentou as aulas a semana toda vestindo chinelo, calça de moletom e uma camisa velha do Palmeiras. Durante toda aquela semana, ele também não tomou banho. Olha, cara, estou acostumado a ser ofendido pelos corredores da universidade, para mim isso é normal, nem ligo mais, dizia o estudante. As pessoas evitam se aproximar muito de mim, por causa do cheiro e tal, continuava contando.
A vontade de se vestir como um mendigo para enfrentar o sistema capitalista começou quando Gerson ainda era uma criança, contou o jornalista num post que viralizou na web. Como assim? Eu nunca quis me vestir como um mendigo, cara, afirmava Gerson. Na escolinha, com menos de sete anos, ele já esculachava e mostrava o preconceito de todos os coleguinhas, segue o texto do Saka. Eu nunca me vesti de mendigo, mano, do que você ta falando?, confirmava o estudante. Será que você pode parar de me seguir agora?, finalizava Gerson em um pedido velado de ajuda.
Gerson muitas vezes foi barrado na entrada da própria universidade. As festas do curso ele foi proibido de frequentar. Enquanto os colegas ostentavam nas festas carros do ano e roupas de marca, Gerson aparecia puxando um carrinho de supermercado e vestindo um saco de batatas. De onde você tirou isso, cara? eu não to querendo mostrar o preconceito de ninguém, é só a roupa que curto, ele confirmava. Quem está dizendo que me visto de mendigo é você, para mim são roupas normais, afirmava para depois perguntar sem perder a rebeldia contra o sistema: será que agora você pode parar de me seguir pelo campus?
Durante quase três meses Sakamotinho, em seu trabalho de jornalismo ativista, acompanhou o estudante Gerson nas suas idas a universidade. Sério, ele não parava de me seguir, eu fiquei assustado, contou Gerson. Segundo Saka, pelos corredores ninguém prestava atenção em Gerson quando ele passava, era como se o estudante fosse um papel amassado jogado no chão, escreveu no blog. Não precisa me ofender né, disse Gerson, agora é sério ou você vai embora ou eu chamo a polícia.
Sakamotinho continuou seu texto denúncia dizendo que apesar de se vestir de mendigo, Gerson não economizava na hora de fazer um lanche no intervalo das aulas. Sempre comia um pastel de frango na cantina da universidade. Até aqui você me segue, meu deus, confirmava o aluno. Já deu pra mim, vou ligar para a polícia, relatava o jovem Gerson, que depois pegou o celular com uma das mãos enquanto a outra segurava um pastel de frango engordurado. Alguns minutos depois a polícia chegou no local e o jornalista Sakamotinho foi obrigado a entrar na viatura sem ganhar nenhuma explicação. Não podemos aceitar que a polícia seja a força repressora do Estado dentro do campus, tuitou o jornalista logo após ser liberado pela polícia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário