quinta-feira, 19 de junho de 2014

Poema para a holandesa que ajudei a pedir uma cerveja ontem e foi o meu amor platônico da Copa

aprender tua língua 
para pedir uma cerveja na lima 
não é dominá-la 
é aceitar tuas frases sem tradução
o sentido sem muros e grades 
é entrar no teu ritmo e adivinhar pelo contexto 
o significado das palavras.

falar tua língua não é falar tua língua 
não é pronunciá-la 
entender a tua língua é entender e aceitar você 
com a dedicação serena de uma autodidata 
é escutar tuas frases foras de ordem e dançar com elas
é esquecer que eu tenho uma língua 
é pensar com você e em você:
pensar só dentro da tua língua 

compreender a tua língua é calar a minha língua
e trair a minha língua
é esquecer o vocabulário educado e bem comportado que eu aprendi antes de conhecer a tua língua
é um execício de aceitação só para no final depois de pedir a cerveja poder te dizer:
o prazer foi todo meu 

ser fluente na tua língua 
é participar da totalidade de você 
é reconhecer que é um erro procurar significado em tudo que você diz 
é saber que por trás da tua língua não existe nada 
nem você 
a tua língua é a tua língua e isso é tudo que eu preciso saber

aprender tua língua é avançar na tua língua 
sabendo que nunca eu vou aprender a tua língua 
mas que eu estou aberto a ela 
que eu a escuto e acho bonita 
que ela me emociona e me prende 
e que nela eu me aceito e me deito e durmo 
sem dizer nada 

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