É como se eu tivesse perdido a confiança em praticamente todas as coisas. É como se eu tivesse perdido a capacidade de controlar o meu próprio destino. É como se uma entidade tomasse posse de mim. Ela me faz sorrir, me estimula a agir, me faz dizer coisas e ter esperanças, e depois me atira contra a parede. Eu me sinto com um personagem de uma narrativa de Onetti cujo desfecho eu não posso alterar. Você fez com que eu me arrependesse de em algum momento ter acreditado no livre-arbítrio.
Eu acho que em algum lugar na psicanálise, está dito que certos tipos neuróticos quando tentam gostar de uma mulher, inconscientemente fazem de tudo para afastá-la. Então é sempre uma escolha que é escolhida porque necessariamente vai fracassar. Eu acho que essa maldição psicanalista caiu sobre mim.
O problema das maldições é que ser consciente delas não ajuda em nada na hora de evitá-las. Édipo foi avisado pelo Oráculo de que mataria o seu pai e casaria com sua mãe. No entanto, esses avisos não serviram de propósito algum. Édipo sai de casa para evitar a maldição prevista pelo Oráculo. Mas acaba, mesmo assim, casando com sua mãe e matando o seu pai. Ele já sabia dos resultados, conhecia os perigos, mas nada deveria mudar: a maldição é sempre mais forte que a consciência
Minha maldição psicanalista me impede de preferir relacionamentos que podem ser felizes. Eu só sou capaz de querer quem deve necessariamente se afastar de mim. Vagando assim pela terra até o dia da minha morte. Só que saber disso não mudar nada para mim, e isso porque: a maldição é sempre mais forte que a consciência.
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