quatrocentos e trinta e quatro mortos ou desaparecidos
tantos tiros nos mesmo corpos e tantos outros machucados
custo a acreditar que, no fundo, não sejamos todos bons e iluminados
porque não, não somos
queremos o que querem os mais fortes sobre os pequenos
queremos o sangue dos outros, esse mínimo
o tempo dos vencedores a criar um país como se fosse só seu
na gaveta de todos há uma arma para o caso
atenção: vocês todos tem na gaveta uma arma para o caso?
no dia que seria o caso ignorou mulheres e crianças e disse: pegue isso protegê-los
de que nos protege a mão com a arma?
de viver como bichos?
de amar sem amor?
quatrocentos e trinta e quatro mortos ou desaparecidos
corpos mortos empilhados uns sobre os outros buscando armas escondidas no fundo de seus olhos
não acredito, no fundo do fundo, que ainda tememos a noite que não vem o dia depois de cada abraço
veja o homem, cujo o corpo tremia diante do gatilho que lhe era desconhecido, veja
deixe esse corpo repousar
não tem armas os corpos nem gavetas
quatrocentos e trinta e quatro mortos ou desaparecidos
nossos olhos abertos na escuridão
os olhos bem abertos
no banco do motorista no banco do passageiro no carro no ônibus
sangra a visão esses corpos
no fundo bem no fundo não acredito, ou até acredito, que entre as gentes habitam monstros disfarçados de sensatez
alguns, dizem, não sentem a dor mas a gente sente
e talvez, veja que digo talvez, nisso resida nosso grande segredo, nossa sobrevivência
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