sexta-feira, 31 de março de 2017

Phármakon

Desde que o li pela primeira vez, a Farmácia de Platão, de Derrida, é um dos meus textos preferidos na Filosofia. O filósofo defende lá que a tradição filosófica, desde Platão, sempre privilegiou a fala, a voz viva, e criticou a escrita como um fantasma, uma forma de expressão sem vida e alienada. A palavra escrita não pode transmitir com a mesma precisão do que a palavra falada, e por isso ela foi relacionada com o phármakon por Platão.
Phármakon, como mostra Derrida, significa remédio e veneno ao mesmo tempo. Esse sentido ambíguo do termo grego é o que me interessa. Aquilo que nos cura também nos mata. Aquilo que nos mata, em suas devidas doses, pode nos salvar. E o que por muito tempo nos salvou, é aquilo que acaba nos matando.

Você sempre será o meu phármakon, meu remédio e meu veneno, minha salvação e minha morte, a minha droga preferida. 

quarta-feira, 29 de março de 2017

Sobre dar um tempo

Eu te devo isso. E hoje, pensando no tempo que estamos dando e no tempo que ficamos juntos, o medo bateu. E bateu muito forte. Lembrei do nascimento de um amor. Poucos amores nascem, crescem e florescem. Normalmente parece que as pessoas nascem prontas, embrulhadas para presentes. Mas com você foi diferente. Fomos quebrando os espinhos aos poucos. Começou naquela aventura confusa e maravilhosa pelas ruas da CB. Era pra ser só um tacaço, lembra? Foi logo ali que eu aprendi a te respeitar. Depois, Porto Alegre, apezinhos na Venâncio, a relação se fortaleceu entre as madrugadas, bares e Netflix. Por isso, hoje, o medo veio muito forte. Eu não sei o que teria sido de mim sem você naquele momento. Não importam os motivos: foi intenso e caótico para nós dois. Eu sei, mas era você que estava comigo naquele apartamento, rindo das minhas piadas, me botando pra cima numa fase da minha vida em que o mundo inteiro me dizia que eu não era nada. Era você que estava lá comigo, e isso era só o que importava. Porque os verdadeiros casos de amor não surgem do nada, embrulhados para presentes. As pessoas são como flores: tem que saber como tocar e segurar. Se não, é sempre sangue e saudade. É bom ter alguém para dividir as coisas. Ou somar. Às vezes muita coisa falta. Às vezes muita coisa sobra e eu não sei onde guardar. 

namorados

eu te dou a minha palavra, meu amor: 
rinoceronte, cidade baixa, metafísica, ser, riso
dasein, grêmio, saudade, cerveja, desconstrução 
qual você quer?
eu quero "ser", amor,
é a mais bonita,
essa é a que eu mais gosto, minha palavra preferida 
mas tudo bem
essa também eu te dou
- como o último pedaço da coisa gostosa que estivermos comendo -
eu te dou minha palavra
eu te dou todas as minhas palavras,
meu amor.