segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Post sério e bonitinho do Chaleira

Não cometa o grande erro de aos vinte e poucos anos escrever um post de amor. Porque aos vinte e poucos anos não se escrevem mais posts de amor. Quando você estava no colégio, conheceu aquela menininha de aparelho nos dentes e teve certeza que a amava. Como poderia não amar? Você não queria tocá-la e nem fazia questão de conversar com ela. Apenas se contentava com um "oi" a cada três dias e de às vezes sentar no mesmo banquinho na hora do recreio. Daí um dia você escreve um bilhetinho com "eu te amo" dentro de um coração. Assim você escreveu sua primeira coisa de amor. E estava tudo bem. Porque você ainda não tinha vinte e poucos anos. E só é errado escrever um post de amor aos vinte e poucos anos. Então o tempo passa, passa e passa. E você passa a negar o amor. Você nega, nega e nega. "E as namorada, Chaleira?" "Que namoradas o quê?" e você sai vermelho. Você, menino estranho, não quer ser estranho na frente dos outros, não é? De noite, sozinho no quarto, você pode escrever os poemas de amor mais feios do mundo. Porém nessa idade tudo bem escrever coisas de amor. O que é errado é aos vinte e poucos anos escrever um post de amor. E mais tarde você ama a Renata. Porque a Renata é linda, a Renata tem olhos bonitos, você gosta de ficar perto da Renata, a Renata é divertida, não é previsível, a Renata. Só que a Renata não dá bola pra você (ou pelo menos você não sabe se a Renata dá bola pra você). Um dia você manda uma mensagem por celular para a Renata. Ela ri de você, mostra para as amigas e agora você é o menino-esquisito. Mas no fundo ainda está tudo bem. Porque você ainda não fez vinte e poucos anos. E só aos vinte e poucos anos é errado escrever um post de amor. Por fim você decide nunca mais olhar para as garotas, mesmo que seu corpo não concorde muito com isso. Os amigos dizem que você precisa parar com essas coisas e aprender a fazer sexo. Você acredita e esquece as palavras de amor. O problema é que chega um dia em que mesmo não se importando mais com as garotas, você começa a se importar com uma garota. A garota. Porque ela sabe se vestir, porque ela tem bom gosto pra música, porque ela tem um olhar triste, porque ela é misteriosa, porque ela sorri diferente. Aí você sente vontade de voltar a escrever coisas de amor. Só que agora é tarde. Agora você não pode mais escrever coisas de amor. Porque você já tem vinte e poucos anos. E com vinte e poucos anos não se escrevem mais posts de amor. 

Esse foi o post sério e bonitinho do Chaleira, de acordo com a lei federal número 9142,21 (Brasil: um país de todos). Voltaremos a qualquer momento com a nossa programação normal.

Ou não. 

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Dez regras para um churrasco com aura

Oi para vocês. Como nessa semana comemoramos a Revolução Farroupilha (vocês não acham incrível que o Brasil tenha feito a sua independência e daí duas semanas depois o Rio Grande do Sul foi lá e conquistou a dele?), eu, Chaleira Pitareli, vou presentear vocês, meus queridos dois leitores, com as dez regras para um churrasco com aura, afinal, não é toda semana que comemoramos uma revolução que não deu certo, né?
Então, canetinha, papel e tesoura sem ponta na mão, que aqui vão as dez regras para um churrasco com aura:


1- Só é permitido comer a carne que o tiozão der (nada de ficar pedindo um pedacinho sem gordura).
2- É proibido pegar a carne com palitinho.
3- Arroz off.
4- É obrigatório aos sobrinhos conversar sobre construções e reformas com os tios.
5- O tiozão deve levar um pratinho com farofa e carne para a mesa das esposas.
6- O tiozão bêbado tem que falar "agora vou botar um rock pauleira para os sobrinhos". Daí ele vai no carro e coloca Dire Straits tocar.
7- Maionese é por conta das tias.
8- A cerveja tem que estar gelando numa caixa de isopor e nunca no freezer ou na geladeira.
9- O tiozão uma hora tem que perder completamente a noção, dar cerveja para o sobrinho de 11 anos e falar: "já tá na hora de ele começar".
10- É função da tia sempre perguntar para o sobrinho: "e as namorada?"

Agora vocês já estão prontos para passar a Semana Farroupilha lembrando os bons tempos do churrasco de outrora, antes de o mundo, o Brasil e o Rio Grande perderem sua aurinha.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

O dia em que Derrida desconstruiu Foucault e descobriu que ele não era gay






Século passado. Paris pós-guerra. Uma reunião entre os mais importantes intelectuais franceses termina com apenas dois homens sentados à mesa. Eles são Michel Foucault e Jacques Derrida.

Foucault: Mas como eu estava lhe dizendo, Derrida, suas ideias são fantásticas. Queria ver a cara do Heidegger quando ele leu o seu artigo dizendo que o ser não é o que há de mais originário e que o próprio Heidegger na verdade não passaria de mais um metafísico.
Foucault dá uma gargalhada.
Derrida (rindo também): Agora aquele nazistinha sabe o lugar dele, não é?

Foucault assume um semblante sério e se aproxima de Derrida.
Foucault: Derri...Posso lhe chamar de Derri? Preciso lhe perguntar algo muito sério.
Derrida (também agora muito sério): Então me pergunte, Foucault. Não pode haver cerimônias entre nós da elite intelectual européia.
Foucault: Vamos cair na noite? Borá lá?
Derrida (muito surpreso): Cair na noite, Foucault? Como assim?
Foucault: Vamos pra zoeira. Eu tô ligado que você é da zoeira. Hoje a patroa me deu passe livre. Vamos beber, agitar, pegar umas menininhas...
Derrida (ainda mais surpreso): Patroa? Beber? Agitar? PEGAR MENININHAS? Mas você é gay, Foucault!
Foucault: Sou o quê?
Derrida: Gay, você é gay, Foucault.
Foucault: Eu não sou gay. Nunca fui gay. Quem foi que disse que eu sou gay?
Derrida: Todo mundo diz. Paris inteira diz, a França inteira diz, a Europa toda diz que você é gay. Você é gay, Foucault.
Foucault: Isso é um absurdo! Como eu nunca soube disso, Derri? Eu até sou casado!
Derrida (com surpresa): Você é casado, Foucault?
Foucault: Sim, e tenho dois lindos filhos.
Derrida: Mas então por que a gente nunca te vê com sua esposa?
Foucault: Eu sou discreto em relação a minha vida particular, Derri. Isso é ser gay?
Derrida: Claro que não, por Deus, Foucault!

Foucault (agora rindo): Você acha que eu sou gay apenas porque escrevi a História da sexualidade... Então você também acha que eu sou louco, visto que também escrevi uma História da Loucura?
Derrida: Não é só esse livro, Foucault. Todo o seu pensamento é gay. “Isso é um cachimbo ou isso não é um cachimbo?”, admita que isso é muito gay...
Foucault: Falou o cara da différence, “olha só como uma letrinha muda tudo blábláblá”....
Derrida: Não são apenas suas ideias, Foucault. Você por si só já é muito gay.
Foucault: Como assim?
Derrida: Veja suas roupas, esse cachimbo, seu chapéu...
Foucault: O que eles têm?
Derrida: São gays, Foucault, eles são muito gays.
Foucault: Mas isto é um absurdo, Derri! Quem compra as minhas roupas é a minha mulher.
Derrida: E onde ela as compra?
Foucault: Les Galeries Lafayette.
Derrida: É uma loja para gays, Foucault.
Foucault: Como assim? O que isso quer dizer?
Derrida: Quer dizer que vende roupas para pessoas gays, é isso que quer dizer.
Foucault (surpreso): Mas que coisa! Preciso avisar a minha esposa...
Derrida (com desdenho): Sim, avise a sua esposa...

Foucault: Eu estou lhe dizendo, Derri, eu não sou gay.
Derrida: Você é, sim, gay, Foucault.
Foucault (irritado): Pare de dizer que sou gay. Eu não sou gay!
Derrida (irritado também): Pare de dizer que você não é gay. Você é gay!
Foucault: Não sou, não!
Derrida: É gay, sim.
Foucault: Não sou, não!
Derrida: Você é gay e pare de negar!
Foucault: Eu não sou gay! Isso que dá sair por aí desconstruindo o outro. Você acha que todo mundo é gay!
Derrida (recuperando a calma): Todo mundo não, Foucault, só você, só você que é gay.

Foucault: Então todos pensam que eu sou gay, Derri?
Derrida: Sim, todos pensam que você é gay.
Foucault: Até na Alemanha?
Derrida: Até na Alemanha, Foucault.
Foucault: Mas que coisa triste! Agora eu estou preocupado...
Derrida: Não há nada de errado em ser gay, Foucault...
Foucault: Eu sei, mas acontece que EU NÃO SOU GAY!

Derrida: Mas, esqueça isso, onde você quer ir agora?
Foucault: Estava pensando na Avignon. Eu sempre vou lá. É muito simpático e divertido.
Derrida: Sério? Na Avignon?
Foucault: Sim, na Avignon. O que tem demais?
Derrida: A Avignon é uma boate gay, Foucault.
Foucault: Uma o quê?
Derrida: Uma boate gay.
Foucault: E o que é isso?
Derrida: É uma boate frequentada por gays.
Foucault: Uma boate frequentada por gays? Mas que conceito fascinante! Esse mundo pós-moderno não cansa de me surpreender, viu Derri?
Derrida: Estou vendo, Foucault.
Foucault: Estou confuso. Tenho certeza que vejo por lá muitas mulheres bonitas.
Derrida: São homens, Foucault. Homens gays que se vestem de mulheres. São chamados de travestis.
Foucault: Alguns homens gays se vestem de mulher? Que mundo incrível esse em que vivemos, meu amigo! 

Derrida (cansado): Escolha outro lugar, Foucault. Vamos sair rápido daqui.
Foucault: Está bem. Então vamos para o Le Queen.
Derrida: Outra boate gay, Foucault. Preste atenção no nome da boate, Foucault. Ele já é gay.
Foucault: Tudo bem. Estou começando a ficar muito confuso. Então, Derri, escolha você para onde vamos. E não escolha nada gay, certo?
Derrida: Certo, vamos para um barzinho aqui perto. É simples, porém é adorável. Podes ficar tranqüilo que os gays não costumam frequentá-lo.
Foucault: Para mim está ótimo. Quero ficar longe de tudo que é gay por uns tempos. Apenas vamos encontrar um amigo que está me esperando logo aqui perto. Ele é estrangeiro. Filósofo também. Brilhante. Um pouco rústico e másculo demais, eu admito. Porém já foi herói de guerra.
Derrida: Ótimo! Adoro encontrar com o outro. Como se chama este seu amigo?
Foucault: Wittgenstein.