sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

uma analítica existencial do primeiro encontro ou jéssica e uma beleza fenomenológica

a tua forma de ser no mundo é certa impressão de fugacidade, um caráter improvável, fugitivo, como se estivesse sempre prestes a voar. é por isso que você impele para cima, por isso que você não está inteiramente presente: você não pesa de todo sobre o chão, tem os pés leves, frequentemente parece assustada, como se fosse sair fugindo ao menor som nas folhagens -- não que seja covarde, pelo contrário, é que se atreve a ir longe, sempre longe demais. dessa forma, teu ser, ao invés de manifestar-se abertamente, está oculto, escondido, negado, fechado em um tipo de interioridade. essa é a consequência mais radical de seu modo de ser: não ser coisa definida, ser um fenômeno que está sempre acontecendo, que consiste em um dinamismo e fugacidade. descrever esse modo de ser vai além da companhia no sentido de sairmos juntos: é uma constante interpretação.  

as linhas delicadas do teu rosto desenham uma ruptura: tu está sempre um pouco atrás de teu próprio rosto.  é o que mais propriamente chamo de um rosto bonito: não o que de imediado agrada por suas formas e que se consegue ver integralmente de uma única vez, mas o que se precisa continuar olhando, interminavelmente. é um tipo de beleza que se dilata e se afasta, elástica, para o futuro, e eu sentia que precisava estar olhando para esse rosto, indefinidamente, a noite inteira.