escrever é mais ou menos isso: a gente se veste para que outro posso nos despir. é construir pontes com as pedras do rio. depois a gente se pergunta quanto tempo levará para que as palavras envelheçam, para que as frases se cubram com poeira, e os fungos e as rachaduras tornem todo o sentido incompreensível. quanto tempo nossa língua morta demora pra secar? quanto até nossas palavras não nos vestirem mais e ninguém puder nos despir? quando a gente não saberá quanto do que dizemos flor é flor nem saberá quanto da noite é noite quando dizermos.
eu lembro da história de um guerreiro corajoso que vivia sem medo de nada porque seu coração estava em outro lugar. não estava ali, no seu peito. estava no fundo do mar, dentro de um baú de pedra. o escrever é o oposto dessa vida do guerreiro com o coração oculto.
escrever é estar com o coração exposto o tempo todo.