quinta-feira, 18 de abril de 2013

Carta aberta para a menina bonita do segundo andar

Caríssima menina bonita do segundo andar,

Já faz algum tempo que nos cruzamos pela segunda vez pelo corredor do segundo andar. Você me deu oi e eu te dei oi.  E eu fiquei com aquela sensação de impossibilidade física e moral de não fazer outra coisa senão pensar em todas as maneiras pelas quais eu não sou suficientemente bom, nos mais variados campos da minha vida, para ter uma conversa mais longa com você. Peço desculpas por demorar tanto em fazer outro contato, mas as últimas semana passaram voando, não é mesmo?

Outro dia, antes desse dia no qual trocamos simpáticos ois, eu te vi passando pelo corredor do segundo andar. E, por alguma razão, eu fiquei de olho em você. Fiquei imaginando o que você estuda ou no que trabalha, se é feliz ou infeliz. Eu não sabia o que você estuda e nem se trabalhava. Eu não sei se você é feliz. Se você ri mais com Chaves ou com Seinfeld. Eu não sei se você anda de ônibus ou de carro. Se torce para o Grêmio ou para o Inter. Eu não sei o que você gosta de comer e nem se gosta de ficar bêbada ou de sair para dançar no sábado. Se faz sexo loucamente ou se é daquilo tipo de gente que só finge que faz, mas no fundo tem nojinho. 

De repente me peguei olhando para você: muito elegante você estava. Uma garota, muito bonita, com o cabelo preso no alto da cabeça e com aquela cara de quem já assistiu todos os filmes cults que estão em cartaz na cidade. Quase que eu peguei o celular e fotografei você, de tão bonita que você estava. 

Nesse outro dia você passou por mim e me deu oi. Oi, oi. Mas eu tive vontade de te agradecer. Te agradecer por poder ter te visto de novo. Porque eu estava começando a entender alguma coisa misteriosa, alguma coisa misteriosa sobre a vida e o amor e a nossa época. Você está me entendendo? Ei, você está prestando atenção no que escrevo? Será que dá para parar só um pouquinho de mexer nos seus cabelos e prestar a atenção nesse treco que eu escrevo? 

Não quero me alongar mais, menina bonita do segundo andar. As coisas vão continuar agitadas por aqui. Mas o mais importante: quando eu poderei te ver novamente passando pelo segundo andar? 

Com afeto, 

Chaleira